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Complex Esquina 111, em Ipanema: novidade com cardápio de Fabio Battistella e espaço para pequenos shows

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Assim, sem fazer muito alarde, abriu as portas há uns dez dias o Complex Esquina 111, em Ipanema, na Redentor com a Maria Quitéria. Como fica ao lado de casa, já estive na casa duas vezes, em ambas para continuar a minha deliciosa pesquisa de campo a respeito dos hambúrgueres cariocas.
O cardápio, criado pelo Fabio Battistella, ex-Meza, e atualmente no Barzinho, de quem sou fã, é um bom sinal. O foco é o mesmo dos cardápios que ele desenvolveu para as suas empreitadas anteriores (Meza, Doiz e Barzinho), comidinhas bem boladas, porções para serem divididas, sanduíches.
São pelo menos três espaços distintos. As mesinhas espalhadas pela calçada, agradáveis para uma noite quente, ou uma tarde fresca de outono; o salão inferior, ao lado do bar, e o salão superior, que não cheguei a visitar, mas desconfio ser menos animado e atraente (menos quando forem acontecer ali pequenos shows intimistas, ou noitadas embaladas a DJs).

Complex Esquina 111 - Instagram
Provei dois hambúrgueres. Recomendo muito este aí de cima, de picanha, a simples e saborosa combinação de pão, carne e queijo, irrigada por boas doses de ketchup Heinz. A foto, como se pode perceber pela baixa qualidade e escuridão, foi roubada do meu próprio Instagram (que, aliás, é @brunoagostinifoto).

Complex Esquina 111
Outro dia, fui provar a porção de minihambúrgueres, com tomate seco, para comer no palitinho. Vale para uma mesa, entre amigos. Mas, inegavelmente, o outro é bem mais interessante.
Como o cardápio ainda vai mudar bastante, como me informou o garçom, acho que nem vale mostrar aqui.
O fato é que o lugar tem ficado bem cheio à noite, com fila e gente em pé do lado de fora. Foi bom, para mim, porque deu um novo ar à área, e movimenta o lugar.
Enfim, não que eu tenha caído de amores pelo lugar, mas me parece mais uma boa novidade para o público jovem que gosta de comer, beber, bater papo e ver gente bonita e interessante. Mas é sempre bom poder apresentar em primeira mão algum lugar novo neste blog. No caso do Complex Esquina 111, a missão está cumprida. Para quem gosta de novidades, uma boa pedida. Vou continuar frequentando a casa e, se for o caso, dou mais detalhes em outro post. Mas só em 2014, claro.

 

Índice de posts de bares e restaurantes na cidade do Rio de Janeiro: clique aqui.



Boni e Amaral lançam “O guia dos guias”, reunindo as suas indicações dos melhores restaurantes do mundo (e algumas histórias de bastidores)

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A dupla de autores do livro, lançado este mês pela Casa da Palavra, e que teve o autor deste blog como um dos colaboradores, orgulhosamente

A dupla de autores do livro, lançado este mês pela Casa da Palavra, e que teve o autor deste blog como um dos colaboradores, orgulhosamente

Era final de maio e eu estava às vésperas de uma viagem à Côte d’Azur quando me chamaram para uma reunião com o Ricardo Amaral, que planejava lançar um guia de restaurantes em parceria com Boni, amigo de longa data. Ao saber do próximo destino deste repórter, o assunto logo — e naturalmente — descambou para os melhores lugares para uma refeição naquela região do Sul da França, passando por Saint-Tropez, Nice, Èze e Menton, as principais cidades do roteiro.

— Bruno, se a sua ideia é fazer uma matéria de verão em Saint-Tropez, você precisa visitar o Club 55, uma barraca de praia onde todos se encontram. Um lugar para ver e ser visto, que serve uma boa comida, regada a muito vinho rosé e champanhe, com muita gente bonita. É o lugar. — aconselhou-me Ricardo Amaral.

Dar dicas de restaurantes para amigos faz parte da rotina da dupla de autores, que passou as últimas décadas viajando o mundo atrás da boa mesa. O livro “Boni e Amaral — Guia dos guias” (R$ 49,90), lançado recentemente pela editora Casa da Palavra, em parceria com a Quitanda Cultural, é a compilação, organizada e ilustrada, dessa longa experiência gastronômica, trazendo histórias curiosas de cada restaurante e seus pratos mais emblemáticos. Além de reunir notas e avaliações de outras publicações conhecidas, como os guias Michelin, Repsol e Gambero Rosso, o livro traz informações úteis como endereço, telefone, site e preço médio.

Os restaurantes são divididos em três categorias. “Os 100 + do Mundo” lista a elite da gastronomia mundial segundo os autores, cozinhas de excelência que valem uma viagem.

— Não basta servir uma ótima comida, tem que ser um lugar especial, único e que tenha importância no cenário gastronômico mundial — ressalta Boni.

Já “Os recomendados” são uma espécie de segunda divisão, com grandes apostas da dupla.

— São lugares que podem, um dia, estar na lista dos 100 melhores — diz Ricardo Amaral.

Por fim, é a seleção “Para ver e ser visto”, endereços que — além da boa comida —, também são famosos pelos seus clientes e pela badalação ao redor de suas mesas.

Entre os cem melhores restaurantes listados pelo guia, que no próximo ano ganha uma versão digital e interativa, apenas 11 ganharam a nota máxima, de 20 pontos. Entre eles, o Akelare, em San Sebastián, no País Basco, na Espanha. De todos os cozinheiros do mundo, Pedro Subijana parece ser o preferido de Boni, que diz ser “bruxaria” o que ele é capaz de fazer diante dos fogões.

— O Akelare é espetacular, não tem nada igual. É comida de verdade, com sabor, sem invencionices. Tudo é muito bom. Ele faz um gâteau de rabada com batatas e pimentões que é das melhores coisas que já comi na vida. E ainda tem a vista magnífica — conta Boni, que gosta de preparar em casa suas receitas preferidas, com sucesso, aliás, dizem os amigos.

San Sebastián merece destaque especial no guia, com uma seleção dos seus melhores bares de tapas, concentrados na parte antiga da cidade, como Astelehena, Casa Urola, La Cuchara de San Telmo e Txepetxa.

— É o melhor lugar do mundo para se comer. São dezenas de bares de tapas, um melhor que o outro, e a graça é visitar vários em um mesmo dia — indica Amaral.

Boni, por sua vez, destaca o Japão como um destino essencial para o viajante gourmand.

— É impressionante o que eles fazem lá, em restaurantes pequenos, das mais diversas especialidades, servindo os melhores ingredientes que você possa imaginar, com técnica apurada e uma apresentação impecável. Muitas vezes, especialmente nos restaurantes de cozinha japonesa, reservar é complicado, e é preciso alguém para traduzir os pratos. Mas a comida é fora de série — comenta Boni, ressaltando, ainda, a Dinamarca, país da moda entre os amantes da boa mesa. — Muito se fala do Noma, que é de fato muito bom. Mas a gente foi até lá só para comer, e o melhor de todos os restaurantes de Copenhage foi o Geranium, espetacular.

No total, são 371 restaurantes, nas três categorias. O Brasil está presente com 52 indicações, apenas quatro na lista dos 100 melhores: Olympe e Roberta Sudbrack, no Rio; D.O.M. e Maní, em São Paulo.

Esta reportagem foi escrita para a edição do dia 21/12 do Ela, do jornal O Globo.

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Paolo Lavezzini: o (relativamente) novo chef do Fasano al Mare, e sua cozinha leve e delicada

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No final do ano passado, fiz um post aqui, longo e com muitos links, falando das principais novidades de 2013 na gastronomia carioca, e também apresentando algumas boas promessas para esse 2014 que está começando. Em um dos trechos, escrevi: “Tivemos, certamente, mais novidades neste ano que vai terminando, mas que me fogem à memória.” (Para ler o post, clique aqui)
Como eu já supunha, esqueci, sim. Ainda que ele tenha, oficialmente, assumido a cozinha do Fasano al Mare em dezembro de 2012, tecnicamente a chegada do chef italiano Paolo Lavezzini se deu no ano passado, quando ele efetivamente começou a dar as cartas no hotel. Assim que notei o esquecimento grave, em parte motivado pelo fato de ainda não ter feito post a respeito dele, o que foi uma das minhas “ferramentas de busca” na hora de escrever o texto, decidi: o primeiro post de 2014 vai ser sobre Paolo Lavezzini.
Seu antecessor, Luca Gozzani, galgou posições no grupo, e acabou indo para São Paulo, e hoje é chef executivo do ristorante Fasano, e também supervisiona as equipes dos demais restaurantes, como fazia Salvatore Loi, mas com um pouco menos de poder, digamos assim (mas está cuidando, por exemplo, da nova Trattoria Fasano, inaugurada no final do ano passado).
Oriundo da Enoteca Pinchiorri, em Florença, um três-estrelas Michelin, dos grandes restaurantes da Europa, Luca Gozzani indicou um amigo e colega para o seu cargo, quando este ficou vago. Este amigo é Paolo Lavezzini (que também já trabalhou com Alain Ducasse).
Fui apresentado a ele em um dia louco, quando emendamos, com uma turma imensa (da pesada), de mais de dez pessoas, uma degustação de vinhos (Vini Vinci) com uma noitada inesquecível na Adega Pérola, ainda que eu não me lembre de todos os detalhes devido aos excessos etílicos… Mas me recordo bem que ao Paolo não faltava simpatia – e também  interesse pela cultura e pela gastronomia do Rio de Janeiro, e seus botecos.
Pouco tempo depois, fui jantar no Fasano al Mare, numa mesa com o próprio Rogério Fasano, quando fui apresentado à comida do Paolo. Mas, confesso, o Rogério roubou a cena, e papear com ele por horas e horas só me tornou ainda mais fã dele: já era do empresário e do gourmet, agora virei do homem, um cara franco, que fala o que pensa, que revela coisas de sua vida pessoal que poucos teriam coragem de contar a um jornalista (e éramos dois à mesa, tinha em frente a mim o Pedro Mello e Souza, além da Bianca Teixeira, a assessora do restaurante). Mas isso é outro papo. Fato é que a comida estava incrível, os vinhos também, e a noite foi maravilhosa. Porém, o propósito não era exatamente prestar atenção na comida.
Mas aí, então – desculpem o nariz de cêra – voltei ao restaurante, no final do ano, desta vez para comer, com atenção. Resumidamente, posso dizer que nesses seis anos e tanto de funcionamento do Fasano al Mare, aquela foi uma das melhores refeições que fiz. E olha que foram muitas, em diversas ocasiões.
O cardápio regular do restaurante não mudou tanto, ou nada mudou, desde que Paolo Lavezzini assumiu a cozinha. O que deu nova cor à cozinha do Fasano al Mare foram exatamente os pratos do dia, que ele cria regularmente, com ingredientes que encontra no mercado, e isso inclui um frango “alla diavola”, que vem arracando suspiros (o prato entra como sugestão, quando ele consegue comprar as aves de um pequeno produtor orgânico da Região Serrana). Tenho ouvido e lido elogios entusiasmados de amigos. Mas não tem sempre. Esta semana está em falta. Na outra, deve ter. E, se assim for, vou lá provar.
Como dizia, Paolo vem arrancando elogios esfuziantes de muitos conhecidos meus (e agora de mim também) por conta dos pratos que vai colocando como sugestão do dia. Combinam leveza e frescor, inteligência e delicadeza, técnica e intuição. Que jantar!!!

Fasano 1 - gaspacho de tomate
Tudo começou como de praxe, com os pães, as pastinhas, os grissini. Nenhuma surpresa, todo o prazer.
Pois aí o chef entrou em ação. Como um prelúdio operístico, o show começou com um gaspacho de tomate com vinagrete de pepino, aceto balsâmico e manjericão. O que dizer?

Fasano 2 - atum
Em seguida, um prato que já virou uma espécie de assinatura do chef nesse pouco mais de ano de trabalho na cozinha do Fasano, com uma ou outra variação, de acordo com os ingredientes disponíveis (vi versões parecidas em mídias sociais). Trata-se do encontro explosivo entre o atum fresco e a mozzarella de búfala, na verdade, geralmente é uma stracciatella, cremosa, delicada. Pois bem. Naquela noite ele compôs um prato com um pedaço fino de atum ao lado do queijo macio, dispondo torradinhas tipo croûton e figos caramelizados, finalizando com azeite, raspinhas de limão siciliano e um toque de flor de sal. Minha alma se levantou, e como se estivesse diante de um Pavarotti, gritou “Bravo!”. Um ritual, digamos, psicológico que atravessou a noite, cujo brilho também esteve na escolha certeira dos vinhos, pelo sommelier Eduardo Luiz Ferreira, que à esta altura ainda servia o champanhe de boas-vindas (confesso que esqueci qual era, talvez um Laurent-Perrier ).

Fasano 5 - garoupa e Chablis
Depois, ulalá, uma garoupa de admirável frescor, desses peixes pescados com arpão, por Francisco Loffredi, ali mesmo pelas águas de Ipanema. Coisa de doido. Confortável, saborosa e equilibrada receita, feita com a chamada acqua pazza (que significa algo como “água doida” ou “água maluca”, em italiano), usada tradicionalmente em receitas com peixes de carne branca. Trata-se de um molho rico e perfumado, cujos ingredientes variam um pouco, e que, neste caso, trazia cogumelos, tomate fresco, batata e manjericão, uma composição surpreendente, saborosa, refinada e, ao mesmo tempo, simples, como me parece ser a cozinha do Paolo.

Fasano 4 - Chablis
Então, havia o Chablis Laroche 2011, à altura e adequadamente acompanhando, para abrilhantar o peixe (Chablis, aliás, nasceu para receitas com pescados, e foi esse o assunto da minha coluna na Revista O Globo de domingo passado, que está neste link aqui: a inspiração, aliás, para fazer a matéria, nasceu naquela noite).

Fasano 6 - Catalpa Chardonnay
E estava eu matutando sobre o melhor dos três pratos quando chegou outro Chardonnay, este mais encorpado, o chileno Catalpa 2010.

Fasano 7 - Risoto de tomate
Bom o vinho, boa a harmonização. Mas o que não sai da memória, nesta etapa do jantar, é mesmo o risoto de tomate com queijo de cabra, no ponto exato de cozimento dos grãos, com a cremosidade esperada, e um sabor intenso, baseado na utilização de poucos ingredientes, em proporções acertadas (se tivesse muito queijo, por exemplo, ele tiraria o brilho do tomate, a estrela do prato).
Caramba, pensava eu, que jantar… Ah, mas tinha mais, e um jantar no Fasano tem que ter uma massinha. Sendo no Al Mare, que seja algo como o agnolotti de azeitona e ricota com camarão, gengibre e tomate seco. Fiquei tão inebriado com o prato, com seus perfumes e suas formas, que até me esqueci de fotografar. Uma pena. Por outro lado, um bom motivo para voltar lá, afinal, preciso fotografar, não é?

Fasano 8 - Champanhe Pierre Moncuit
Para ele, foi escolhido outro champanhe, o lindo Pierre Moncuit, que foi um dos pontos altos da noite, pensando em termos de harmonização. Primeiro, porque não deixa de ser ousado servir champanhe assim, no meio da refeição. Segundo, o mais importante, porque o vinho se deu muitíssimo bem com o prato, perfumado e delicado como ele. E, terceiro ponto, serviu para limpar a boca para a etapa seguinte…

Fasano 9 - Bourgogne Dominique Laurent Cuvée Numero 1 2009
… quando o primeiro e único tinto da noite surgiu, o Bourgogne Cuvée Numero 1, de Dominique Laurent  (adoro jantares regados a vinho branco e espumante, ainda mais no verão).

Fasano 10 - cordeiro
Era, simplesmente, um lombo de cordeiro com cogumelos mistos frescos “trifolati”, purê de batata e molho de mirtilo de montanha. Sabe lá o que é isso? Para resumir a ópera, digo apenas que até o purê de batatas ainda deixa saudade nesse coração mole e cheio de fome. Que coisa. Cordeiro no ponto certo, rosadinho, molho agridoce, equilibrado, o purê dando cremosidade e quebrando a intensidade de sabores, os cogumelos cumprindo o seu papel de enlouquecer as pessoas…

Fasano 11 - sobremesa
Hora da sobremesa. Outro acerto do chef, que manteve a sua mesma filosofia, de criar receitas autorais sobre bases clássicas, com poucos ingredientes, bem escolhidos.

Fasano 12 - sobremesa close

Close nela. Era uma sobremesa chamada “Texturas de chocolate, sal e damascos”, praticamente autoexplicativa, e deliciosamente sedutora, doce, mas não muito, com açúcar bem equilibrado pelo amargor do cacau e pelo tom marinho do sal, e pela acidez cítrica do Limoncello que acompanhou (outra boa sacada do sommelier).

Fasano 13 - Cognac Tesseron XO Selection
Encerramos com um lindo Cognac Tesseron X.O. Selection, para arrematar em grande estilo.

Cachaça de Jambu
Mas, aí, o chef veio à mesa, começamos a papear, ele se animou com o papo sobre Brasil e Itália, os nossos ingredientes e receitas, e acabou trazendo à mesa, ainda, uma Cachaça de Jambu, direto do Pará.

Fasano 14 - equipe
No final, pedi uma foto do trio responsável pela grande noite. O chef Paolo Lavezzini, à esquerda; o sommelier Eduardo Luiz, no centro, e o gerente do hotel, Ricardo Zaroni, à direita, um desses caras que vieram de São Paulo para o Rio para fazer a gente mais feliz à mesa.
Um agradecimento especial aos três pela linda noite.
Acabei lembrando, agora, de outro esquecimento: esta semana assume o comando do Cipriani, no Copacabana Palace, o chef Luca Orini, que trabalhava no Grand Hotel Timeo, em Taormina, na Sicília, muito chique, e que também pertence ao grupo Orient-Express, dono do Copacabana Palace (notícia que adiantei aqui, em primeira mão). Vou jantar lá hoje. Mas isso é assunto para outro post, quem sabe se não o segundo do ano?
:-)

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Um passeio pela Itália, da Lombardia à Sicília: com formação eclética o chef italiano Luca Orini acaba de assumir a cozinha do Cipriani, no Copacabana Palace, lançando o seu menu de estreia

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O risoto de pera com taleggio é um dos destaques do cardápio lançado no sábado passado

O risoto de pera com taleggio é um dos destaques do cardápio lançado no sábado passado

Ele nasceu na Lombardia, na área do Lago Maggiore, perto da divisa com o Piemonte. Trabalhou por 12 anos em Florença, na Toscana. Depois, viajou para o deserto de Nevada, para uma temporada de mais três anos em Las Vegas. Em seguida, voltou à Itália, fazendo uma escala de duas temporadas na Sicília. Trazendo na bagagem esta eclética formação, que incluiu ainda passagens pelo Colorado (EUA) e pela Ligúria, o chef italiano Luca Orini chegou ao Rio de Janeiro no final de outubro para assumir a cozinha do Cipriani, no Copacabana Palace. Após dois meses de testes, cozinhando em silêncio, pesquisando os nossos ingredientes e sentindo a resposta da clientela, ele lança hoje o novo menu do restaurante, totalmente renovado.

— Alguns clássicos não posso tirar, como o carpaccio e o nhoque de berinjela ao molho de tomate e manjericão. Estou lançando 23 novos pratos, e deixei apenas quatro receitas “classici Cipriani”.

O menu de Luca Orini apresenta pratos de várias regiões da Itália, muitas vezes com um tempero autoral. O tartare, por exemplo, é de wagyu, servido com gelatina ao açafrão, burrata e caviar. Outra entrada com carimbo do chef são as vieiras grelhadas sobre creme de tomate e aipo, combinando leveza e frescor. Entre os primeiros pratos, o risoto de taleggio com pera caramelada é digno de aplausos. Para o prato principal, o linguado grelhado com molho de limão siciliano e alcaparras e o carré de cordeiro em crosta de pistache e batata gratinada estão entre as melhores pedidas. Para encerrar, a pera glaceada ao açafrão com sorvete de vinho tinto e o semifreddo de maracujá com torrone de nozes.

— Gosto da cozinha clássica, mas sem ser escravo. Posso trocar a trilha pelo vermelho, por exemplo, quando o vermelho estiver mais fresco — diz o chef, que também vai servir menus degustação, sempre variando de acordo com a estação e os ingredientes do mercado.

Também há receitas que seguem à risca o receituário clássico, como o minestrone morno ao pesto genovês, o ossobuco em gremolada com risoto de açafrão e o tiramisù.

— A Sicília é um lugar incrível, e me influenciou muito. Apesar de ser do norte da Itália, gosto mesmo é de azeite, de cozinhar com peixes e frutos do mar, com vegetais, usando poucos elementos, três ou quatro coisas, preservando a identidade de cada um. Gosto de explorar a acidez, com frutas. A jabuticaba, que eu não conhecia, é maravilhosa. Também achei incrível o inhame. Estou começando a me familiarizar com os ingredientes daqui — diz.

 Esta reportagem foi escrita para a edição do dia 11/01/2014 do Ela, do jornal O Globo.


Gastronomia paulista em terras cariocas e vice-versa

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Perguntados sobre novos projetos, Alex Atala, do D.O.M., e Helena Rizzo, do Maní, não se cansam de repetir que sonham em ter restaurantes no Rio de Janeiro. A futura – e provável – chegada à Guanabara de dois dos mais badalados chefs de São Paulo, e do Brasil, seria o ápice de um movimento que começou timidamente, há mais de 20 anos, e que ganhou força há pouco mais de uma década, para se consolidar definitivamente nos últimos meses: o intercâmbio de grifes gastronômicas entre as duas maiores cidades do Brasil é uma deliciosa realidade.
Os camarões à Zico, um clássico do Antiquarius

Os camarões à Zico, um clássico do Antiquarius

Em 1990, quando o Antiquarius cruzou a Via Dutra para se instalar nos Jardins, São Paulo ganhou não apenas um grande restaurante português, mas também a casa pioneira neste saboroso troca-troca. O restaurante fechou as portas no ano passado, mas no início de 2014 a marca volta à capital paulista, dessa vez como Antiquarius Grill, com cardápio que combina o DNA lusitano com uma bela lista de carnes, em ambiente um pouco mais informal.
Picanha fatiada do Esplanada Grill: casa nascida em São Paulo, que hoje existe apenas no Rio de Janeiro

Picanha fatiada do Esplanada Grill: casa nascida em São Paulo, que hoje existe apenas no Rio de Janeiro

Poucos anos antes, o Esplanada Grill fez o caminho inverso. Nasceu em São Paulo, e migrou para o Rio. Hoje a casa matriz não existe mais, mas a churrascaria chique adorada por nomes como Boni (e família) continua firme e forte,  na esquina da Aníbal de Mendonça com a Barão da Torre, coração de Ipanema.
A sensacional costeleta de vitelo á milanesa, do Gero, que causou uma pequena revolução ao chegar ao Rio, em 2002

A sensacional costeleta de vitelo á milanesa, do Gero, que causou uma pequena revolução ao chegar ao Rio, em 2002

Foi a partir de 2002, com a inauguração do Gero, vizinho ao Esplanada Grill – na esquina da mesma Aníbal de Mendonça, com a Redentor – que esse trânsito de restaurantes foi ganhar corpo. O Garo de Ipanema marcou a chegada ao Rio de Janeiro do clã Fasano, sinônimo de elegância e da melhor cozinha italiana que se pode imaginar. Mesmo nas cidades mais ricas da Itália não é muito fácil encontrar um “ristorante” deste nível. A chegada do Gero ao Rio foi um desses lances que fazem bem a todos. Para o grupo Fasano, trouxe algumas doses da informalidade carioca (é possível até almoçar de bermudas, algo impensável nas casas paulistas do grupo). Para o Rio de Janeiro, estabeleceu um novo padrão de qualidade na cozinha e – ainda mais – no serviço.
Nicola Giorgio e Dionísio Chaves: saídos do grupo Fasano para abrir boas casas italianas

Nicola Giorgio e Dionísio Chaves: saídos do grupo Fasano para abrir boas casas italianas no Rio de Janeiro, na Barra, no Leblon e no Centro

Não à toa, muita gente que passou pelas casas do grupo em terras cariocas, como também acontece em São Paulo, saiu para montar os seus próprios negócios, como a dupla Dionisio Chaves e Nicola Giorgio, hoje sócios de três endereços italianos no Rio: o Duo, na Barra; a Bottega del Vino, no Leblon; e o Uniko, no Centro, trio que mantém o alto nível, da comida e do atendimento, estabelecido pela “famiglia” Fasano.
Atum com stracciatella, figos e croûtons, uma das estrelas dos cardápios do novo chef do Fasano al Mare, o italiano Paolo Lavezzini

Atum com stracciatella, figos e croûtons, uma das estrelas dos cardápios do novo chef do Fasano al Mare, o italiano Paolo Lavezzini

O negócio em terras cariocas deu tão certo que foram chegando, aos poucos, outras grifes com a assinatura Fasano ao Rio de Janeiro. Primeiro, a Forneria São Sebastião, que hoje já não tem mais o grupo como sócio, mas se mantém firme e forte – e cheio – na mesma Aníbal de Mendonça, a uma quadra de distância do Gero. Depois, em 2007, foi a vez de abrir as portas o hotel Fasano, na avenida Vieira Souto, na mesma Ipanema, trazendo acoplado, no térreo, um restaurante que carrega o nome da família. No Fasano al Mare, o cardápio faz jus à localização junto à praia, apresentando receitas que exploram com mais ênfase os peixes e os frutos do mar – e hoje a cozinha anda vivendo uma grande fase, com a chegada há cerca de um ano do chef italiano Paolo Lavezzini, pescado da mesma Enoteca Pinchiorri, o famoso três-estrelas Michelin de Florença, de onde já tinha vindo o seu compatriota Luca Gozzani, agora trabalhando no Fasano de São Paulo – e que, aliás, foi quem o indicou para assumir a cozinha do restaurante carioca. Depois, em 2011, abriu as portas o Gero da Barra da Tijuca, mostrando que não falta apetite para os Fasano continuarem expandindo os seus negócios em solo carioca.
Os tentáculos de polvo, temperados com alho, pimenta dedo-de-moça e cebolinha francesa, com tomate assado, fritas e saladinha: simplesmente perfeito

Os tentáculos de polvo do Le Vin, temperados com alho, pimenta dedo-de-moça e cebolinha francesa, com tomate assado, fritas e saladinha: simplesmente perfeito

O Gero foi um sucesso imediato, e continua assim até hoje, o que acabou inspirando a chegada de outras grifes da boa mesa paulistana ao Rio de Janeiro. Foi também Ipanema o endereço escolhido por outra marca de sucesso em São Paulo para se apresentar aos cariocas. Mas, desta vez, com sotaque francês. Com a inauguração do Le Vin, também em 2007, na Rua Barão da Torre, não muito longe dos demais restaurantes ipanemenses já citados, o Rio de Janeiro ganhou uma casa dedicada à cozinha francesa clássica, executando com perfeição um receituário tradicional que logo foi um sucesso imediato e que, assim como aconteceu com a grife Fasano, logo gerou filhotes: hoje o grupo Le Vin  tem três endereços no Rio de Janeiro, incluindo uma loja que vende vários produtos de produção própria, como pães, bolos e macarons, no Barrashoping, e um quiosque no Village Mall, também na Barra.
As magníficas alheiras do Astor, exclusividade da filial carioca

As magníficas alheiras do Astor, exclusividade da filial carioca

O ano de 2007 marcou a invasão paulista. Foi em abril deste ano que o Rio de Janeiro ganhou a primeira filial da mais famosa pizzaria paulistana. A abertura da grande e linda Bráz no Jardim Botânico,  com direito a um terraço agradável com vista para o Cristo Redentor, foi também outro marco, que trouxe a reboque outros investimentos posteriores da Cia. Tradicional de Comércio, grupo que tem várias outras casas em São Paulo (Original, Pirajá, Astor e Lanchonete da Cidade). Assim, algum tempo depois, Ipanema viu novamente a estreia em terras cariocas de uma marca da gastronomia paulistana, desta vez o bar Astor, que ocupou lindamente o antigo – e histórico – Barril 1800, que andava bem caidinho nos últimos anos. Novamente, os cariocas agradeceram, e o cardápio da casa incorporou alguns pratos típicos do Rio, e assumiu a influência lusitana que é uma característica do gastronomia carioca, lançando um prato que muito bem simboliza isso, as alheiras com fritas e ovos estalados, uma das melhores pedidas no endereço da Vieira Souto, esquina com Rainha Elizabeth. Hoje, a Cia Tradicional de Comércio busca um lugar para inaugurar uma Lanchonete da Cidade no Rio.
O sucesso de todas essas grifes paulistanas acabou trazendo outras, inclusive aquelas de perfil mais trivial, como a rede de hamburguerias The Fifities e o Ráscal, que consegue ser um excelente rodízio gourmet, de inclinações italianas, com especial atenção à cozinha mediterrânea. E, seguindo a mesma filosofia das casas paulistas, funcionando em shoppings, como o Leblon e o Rio Sul.
As veiras com sal vermelho, uma das melhores pedidas do Naga, no Village Mall, inaugurado no ano passado

As veiras com sal vermelho, uma das melhores pedidas do Naga, no Village Mall, inaugurado no ano passado

 Com potencial de ser um marco para a cozinha japonesa no Rio de Janeiro, a chegada do Naga, no Village Mall, trouxe vários cozinheiros importados de São Paulo para a cidade, além de ótimos fornecedores de pescados e um extremo cuidado na elaboração das cartas de saquê.
O salão da primeira unidade do Pobre Juan, no Village Mall

O salão da primeira unidade do Pobre Juan, no Village Mall

Mostrando que essa tendência veio para ficar, o Rio ganhou, ainda no ano passado, logo duas unidades da casa de carnes platenses Pobre Juan, primeiro no Village Mall, na Barra, e depois no Fashion Mall, em São Conrado. E, assim como acontece em São Paulo, onde restaurantes dedicadas às parrillas argentinas e uruguaias já são um sucesso faz algum tempo, a disputa vai ficar ainda mais acirrada: para o início de 2014 está prevista a abertura da primeira filial da rede Corrientes 348 Parrilla Porteña.
O pulpo alla gallega, um dos destaques do bar de tapaz Venga, que chegou a São Paulo depois de ser criado no Rio de Janeiro

O pulpo alla gallega, um dos destaques do bar de tapaz Venga, que chegou a São Paulo depois de ser criado no Rio de Janeiro

Ainda que com menos intensidade, também acontece um movimento em direção contrária, e algumas casas criadas no Rio de Janeiro estão migrando para São Paulo, geralmente lugares de perfil mais informal, como é o caso do bar de tapas Venga, que chegou À Vila Madalena, o mais carioca dos bairros paulistanos, em 2011 através de uma sociedade com a Cia Tradicional de Comércio.
O bolinho de feijoada do Aconchego Carioca, receita que se espalhou pelo Brasil

O bolinho de feijoada do Aconchego Carioca, receita que se espalhou pelo Brasil

No ano seguinte, em 2012, foi a vez do Aconchego Carioca, que reproduz nos Jardins o sucesso da casa original, na Praça da Bandeira.  Para o endereço paulistano, Katia Barbosa, a criadora do famoso bolinho de feijoada, hoje reproduzido por todo o país, reservou para o novo bar uma deliciosa novidade, rendendo homenagem aos locais: o bolinho de viradinho à paulista, um verdadeiro símbolo dessa deliciosa aliança entre o Rio de Janeiro e São Paulo através da boa mesa.
                                                                                                                                                                                                                          INTERCÂMBIO TAMBÉM DE COZINHEIROS
                                                                                                                                                                                                                                          Esse vaivém de grifes gastronômicas entre o Rio de Janeiro e São Paulo também acontece com os chefs, que andam trocando de cidade com frequência. Depois de construir uma carreira de sucesso no Rio de Janeiro, o francês Laurent Suaudeau foi morar na capital paulista, onde dá consultorias e aulas de gastronomia.
Já o italiano Luciano Boseggia fez o contrário. Chegou ao Brasil via São Paulo, “importado” pelos Fasano para trabalhar no grupo, onde ficou por 15 anos. Mestre nos risotos, ele ainda ficou por mais tempo na capital paulista, onde abriu um restaurante, antes de ir morar no Rio de Janeiro, assumindo a cozinha do Alloro, no Windsor Atlântica, que logo se colocou entre os melhores restaurantes italianos do Rio, e é visível a alegria do chef com a nova fase.
O boliviano Checho Gonzales, por sua vez, é um bom exemplo dessa situação. Trabalhou com Alex Atala nos primórdios do D.O.M., foi para o Rio de Janeiro, onde passou por várias casas, como o Zazá Bistrô e o Pecado, voltou para São Paulo e hoje se divide entre as duas cidades, cuidando do cardápio de várias casas, como o novato Escobar, no Leblon, um bar pan-americano, com receitas de vários países da América Latina.
 O italiano Luca Gozzani chegou ao Brasil para inaugurar o Fasano al Mare e hoje dá expediente no ristorante matriz, em São Paulo


O italiano Luca Gozzani chegou ao Brasil para inaugurar o Fasano al Mare e hoje dá expediente no ristorante matriz, em São Paulo

Um dos capítulos mais recentes foi a ida para São Paulo do chef Luca Gozzani, que chegou ao Fasano para substituir Salvatore Loi no comando da cozinha, renovando o cardápio e dando ares um pouco mais joviais às receitas, incluindo a apresentação dos pratos.
                                                                                                                                                                                                                                          Esta reportagem foi escrita para a revista Conceito A.
                                                                                                                                                                                                                                      Índice de posts de bares e restaurantes na cidade do Rio de Janeiro: clique aqui.

Vem coisa boa e bela aí: em março abre as portas na cobertura do Sheraton Leblon um restaurante do francês Jean-Paul Bondoux (ou Resposta do Chico: carioca gosta sim de comer olhando o mar)

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Vista do alto do Sheraton - por Sarah Moreira
Chico Buarque, certa vez, disse que o carioca não gosta de comer em restaurantes com vista para o mar. A frase é boa, mas não concordo que seja verdadeira. Pelo menos inteiramente. Eu faria uma mudança na sentença: o carioca não vai a restaurante ruim só porque tem vista linda. Ponto, acho que é isso. Comer no Le Saint Honoré era a glória não só por conta da cozinha que deixou saudades, mas também pelo panorama que se tinha lá do alto do Meridién, Copacabana aos nossos pés. A mureta do Bar Urca faz sucesso em grande parte por conta do visual que se tem dali, a qualquer hora do dia e da noite, a parede de montanhas, o Cristo a nos abençoar, os barquinhos navegando na enseada, o movimento de carros entre Botafogo e o Flamengo, os prédios da cidade. O chope e a comida, mesmo altamente recomendáveis, são acessório, detalhe: ali, quem brilha é o Rio.No caso do Albamar, os pratos com peixes e frutos do mar sempre foram a isca mais importante na hora de fisgar clientes, mas as janelas amplas descortinando a Guanabara, a Ponte Rio-Niterói, as barcas chegando á Praça XV, a ilha Fiscal, as canoas rústicas dos pescadores e os aviões pousando no Santos Dumont sempre foram, sem sombra de dúvida – e até hoje são – uma das razões principais da longevidade da casa, agora agradavelmente renovada. Ainda que o recorte não seja dos mais vistosos, a Enoteca Uno – no alto do prédio RB1, na Praça Mauá com Rio Branco, de frente para os navios parados no porto – tem na vista um dos seus atrativos, além da cozinha impecável do luso-germânico Joachim Koerper. A cozinha do restaurante principal do Othon Palace, o Skylab, no alto do prediozão da Atlântica, não faz a gente suspirar, mas todos os anos, quando tem o tradicional e imperdível festival de queijos franceses, eu fico com vontade de ir jantar lá, atraído pelo belo panorama noturno da orla movimentada de Copacabana (e fico feliz quando alguém marca ali uma degustação de vinhos ou outro encontro do gênero). Não dá para dizer que os exemplos são muitos, mas é certo que existem alguns bons restaurantes no Rio de Janeiro com vista para o mar.
A hotelaria, claro, é responsável por grande parte desses lugares. Além dos dois já citados, temos uma série de bares e restaurantes localizados a partir do segundo piso, com especial panorama do Oceano Atlântico. No Marina All Suites, no Leblon, o Bar d’Hotel nos proporciona lindas janelas emoldurando a praia (o melhor ali é ir com calma, numa tarde ensolarada de inverno, pegar uma mesa junto a elas, e se deliciar com a comida da chef Maria Vitória associada ao visual. Em Ipanema, pelo menos mais três exemplos, todos relativamente novos. Vamos pela ordem geográfica. Com boa carta de cervejas e petiscos apetitosos, o Espaço 7zero6, bar na cobertura do Praia Ipanema Hotel, quase no Jardim de Alah, tem piscina e vista linda, Dois Irmãos à direita, Pedra do Arpoador à esquerda, balizando o panorama. Também no alto, no 23º do antigo Caesar Park, agora com a bandeira Sofitel, na esquina de Vieira Souto com Maria Quitéria, o restaurante Galani voltou aos holofotes no finalzinho de 2013. Agora sob o comando do comptetente chef William Halles, voltou a ser um lugar altamente considerável para uma refeição, como já tinha sido um dia. William é fera:foi por anos o braço direito do mestre Roland Villard, do Le Pré Catelan, no Sofitel de Copa – que, aliás, tem uma vista simpática da orla ali do Posto 6. Perto dali, na altura do Posto 9, o Gabbiano al Mare no segundo andar do Hotel Sol Ipanema tem uma cozinha italiana bem executada pelo chef boa praça Romano Fontanive, com natural vocação marinha, e vista bem simpática da praia.
Em Copacabana tem os já citados Le Pré Catelan e Skylab, Copacabana tem outros lugares que apresentam bonita vista da praia.
A despeito do serviço mocorongo, tomar café da manhã ou fazer um lanche nas mesinhas da Colombo do Forte, com toda a orla de Copacabana arredondando o cenário até perder de vista, é um dos programas imperdíveis desta cidade – e que todo mundo deveria fazer ao menos uma vez na vida. E quem não gosta de almoçar nas exclusivas mesas do restaurante do Clube dos Marimbás, ali ao lado, desfrutando desse mesmo panorama?
Não é mar, mas quase isso, na Lagoa temos pelo menos três lugares com agradável vista para o espelho d’água: Pomodorino (no segundo andar), Mr Lam (na cobertura) e, principalmente, na varanda do complexo gastronômico do Lagoon.
Não queria contratiar Chico Buarque, sujeito que eu muito aprecio, mas a verdade é que carioca gosta, sim, de comer olhando o mar. Pode não fazer questão disso, mas gosta, como quase todas as pessoas, porque olhar o mar faz bem, e ainda inspira a gente a pedir um cardápio com pescados, naturalmente. Adoro comer vendo o mar. Aposto que você também.
Pois bem. Toda essa longa abertura, é para dar a notícia quentinha. No começo de março abre as portas no alto do Sheraton da Avenida Niemeyer um restaurante que promete ser uma das grandes novidades, parte do esforço da rede Starwood para dar nova vida ao hotel. A cozinha terá a supervisão do francês Jean-Paul Bondoux, chef “Relais & Chateaux” dos restaurantes La Bourgogne de Buenos Aires (no chiquérrimo e tradicionalíssimo Alvear Palace Hotel), e de Punta del Este.
Desconfio que vem coisa (muito) boa aí. A vista, na cobertura do hotel, 26º andar, é deslumbrante. Isso eu já posso garantir. E a foto lá de cima deixa bem claro.
Foi mal, Chico.

 

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Fat Choi: um raro restaurante com cozinha de Macau, no Catete

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Mesmo em Macau, absorvido pela China em 1999 depois de 400 anos de colonização portuguesa, não é fácil encontrar restaurantes que servem a cozinha típica do período de influência lusa. Imagine no Rio de Janeiro. Pois no meio do ano passado abriu as portas, no Catete, bem perto do palácio e dos seus aprazíveis jardins, o Fat Choi, que vem apresentar aos cariocas essa culinária, que tem base chinesa, um toque europeu e algumas referências a Goa, outra antiga colônia portuguesa, na Índia, que fazia parte das rotas comerciais de Macau. Tem caril de frango. Também há receita africana, pela mesma razão, já que os portuguesas iam parando na costa africana, um frango picante

Fat Choi 6 - salão

Poucos restaurantes na cidade podem ser tão autênticos. O lugar é simples e barato, decorado com fotos de Macau, imagens bonitas, daquelas divulgadas por escritórios de turismo.

Fat Choi 3 - tanque de tilápias

Na entrada, um tanque de tilápias apresenta uma das principais iguarias do lugar nadando, nadando, nadando.

Fat Choi 4 - bufê

Ao lado, no almoço, um bufê apresenta boa parte do cardápio.

À primeira vista, a cozinha é mais chinesa que portuguesa. Não resta dúvida. Se alguém me falasse que aqueles pratos são da culinária chinesa eu acreditaria, com certeza.

Fat Choi 1 - sopa e chá

Abri o cardápio (no final do post, reproduzo todas as suas cinco páginas). E recebi duas cortesias, algo bem oriental. Um chá e um caldo de frango com couve e agrião. Mesmo com o calor senegalês de terça passada, aceitei as ofertas. Quem quiser, descobri depois, pode pedir o chá frio. Recomendo, à esta altura do ano.

Fat Choi 2 - cardápio digital

 

Também manuseei o menu digital, com as fotos, uma tradição da cozinha asiática, apresentar imagens dos pratos. Várias coisas me interessaram. Veja. Aos sábados, tem feijoada macauense e, aos domingo, arroz de bacalhau, traduzindo a herança portuguesa. Terça é dia de vaca estufada, nome totalmente lusitano. Ou seja, me parece que os pratos do dia são mais coloniais, enquanto o menu regular tem raízes um pouco mais chinesas.

Fat Choi 7 - wantan frito

Pedi um wantan para começar, os bolinhos fritos de camarão. Os pasteizinhos estavam muito bons, com recheio saboroso e massa crocante e sequinha, mas é preciso ter cuidado com o molho, muito salgado.

No setor das entradinhas, encontramos rolinhos primavera, tofu frito, espetinhos de lula e camarão e… bolinhos de bacalhau. Há sanduíche. Sim, prego no pão.

Para o prato principal, eu pensei, pensei, pensei… Várias coisas despertaram interesse. Mas como estava só, e sabendo que a cozinha chinesa é muito farta, fui dar um confere no bufê. Considerando que era uma primeira visita (já estava decidido a voltar), resolvi escolher alguns pratos dali, ainda que eu pessoalmente tenha desenvolvido certa antipatia a esse tipo de serviço, que prejudica muito o resultado final quando falamos de pratos quentes (para saladas, frios, queijos e embutidos, frutas e sobremesas, ok, mas para pratos quentes tenho mesmo preconceito: não gosto, e ponto). Mas acabei decidindo pegar um pouquinho de vários pratos. E percebi a cozinha com tempero caseiro, feita com atenção, em execuções bem acertadas. Reforçou minha vontade de voltar.

Fat Choi 8 - prato do bufê

Montei o prato com vários bocadinhos. Vamos lá: de arroz com ovo e cebolinha e costelinha agridoce; iscas de filé acebolado em molho agridoce; lombo cantonês; batatinha apimentada;  carne moída cozida no vinho do Porto com batatas (o minchi, que seria o prato mais tradicional de Macau, servido com ovo).

Fat Choi 5 - mesa

Há mesas grandes, para grupos de oito a dez pessoas, e salas privativas no andar superior, mais reservadas, para grupos, com direito a jogos tradicionais, mais usados pela comunidade de Macau no Rio (sim, existe até um clube, se não me engano, na Tijuca).

Fat Choi 9 - bolo menino

Para a sobremesa, há pasteis de nata da Arte Conventual, que eu adoro. Mas acabei escolhendo algo de produção local, o bolo menino, que não leva farinha na massa.

Com duas águas, minha conta deu R$ 34. E a experiência foi válida, e bem interessante. Eu recomendo.

 

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Agora, o cardápio.

Fat Choi 10 - cardápio 1

Página 1. Petiscos, entradas, sanduíches, caldos e sopas.

Fat Choi 10 - cardápio 2

Página 2. Pratos do dia, boi, porco, frango e frutos do mar.

Fat Choi 10 - cardápio 3

Página 3. Massa, arroz, vegetais e saladas, sobremesas.

Fat Choi 10 - cardápio 4

Página 4. Bebidas, incluindo cervejas, digestivos, licores e destilados.

 

Fat Choi 10 - cardápio 5

Página 5. Vinhos.

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O menu omakasê do Irajá: Pedro de Artagão cria cardápio degustação autoral seguindo a filosofia japonesa, com muito peixe cru e pouca carne

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Omakasê é o tradicional menu degustação japonês. Pedro de Artagão é o chef do Irajá, em Botafogo. Sem fazer muito alarde, foi com este nome nipônico que ele batizou o seu novo cardápio, lançado no fim de 2013. Longe de ser uma sequência de pratos japoneses, o jantar segue alguns princípios fundamentais dessas refeições, encontradas por todo o país asiático, de Tóquio a Osaka, de Kyoto a Nagoya.
Tudo começa com pratinhos que primam pela delicadeza, com base em pescados crus, até terminar com um único serviço de carne, em pedaço não muito grande, como acontece no país asiático. No Japão é parecido: o início seria ao sabor de sushis e sahimis, finalizando com uma única receita carnívora – que nas boas casas do ramo da terra do sol nascente, invariavelmente é o Kobe Beef, ou pelo menos um bom wagyu. Assim, o jantar, mesmo longo, termina leve, feliz, memorável.
O menu custa R$ 260  e as harmonizações de bebidas, R$ 130 ou R$ 180 (que foi a nossa).
Esse encontro entre o Japão e o Brasil é um dos melhores menus em cartaz na cidade hoje. Um desses programas que a gente fica até desconcertado, desvendando os mistérios e delícias apresentados em cada prato, rememorando os sabores dias depois, indicando aos amigos gourmets. Foi uma das grandes refeições que fiz recentemente, combinação de leveza, delicadeza, pureza e equilíbrio, numa sequência arrebatadora, deliciosa, e valorizada pelos vinhos bem escolhidos pela Julieta Carrizo, sommelière que gosta de fugir do trivial.
Ao longo do jantar, lembrei do bate papo recente que tive com a minha cozinheira predileta.
- O Pedro de Artagão é um chef incrível. Adoro o trabalho dele, sensível, inteligente – disse-me no final do ano passado a chef Roberta Sudbrack, quando a entrevistava para uma reportagem sobre o seu novo livro, lançando neste começo de 2014 (para ler, clique aqui).
Para o jantar da semana passada, tudo começou nos últimos dias de dezembro, quando por conta de uma reportagem sobre a salada niçoise, publicada no Ela, eu estava trocando umas mensagens com o Pedro de Artagão, que numa delas me convidou para ir lá provar a novidade. Sabendo da nossa amizade e do nosso gosto comum pelos prazeres insanos da boa mesa, ele também chamou para a noitada o seu xará Pedro Mello e Souza, meu grande amigo, do site Talheres, Cheguei. Resolvemos fazer a segunda edição de uma experiência bacana: jantamos juntos o mesmo menu, escrevemos textos separadamente, para que sejam colocados no ar no mesmo instante (a estreia foi no Térèze: para ler, clique aqui).
- Sirvo sete ou oito desses menus desses por noite, no máximo, e nada mais. Faço questão de ir apresentar os pratos na mesa. Pode ser em mesas separadas, mas no máximo oito pessoas. Só podemos servir sob reserva, com três dias de antecedência, porque compramos muitos insumos só pra ele, e aí dependemos dos fornecedores – explica o chef.
Irajá 2 - caipirinha de maracujá com carambola e alecrim
Pois na noite de quarta, com o dilúvio se abatendo sobre a cidade, quase cancelamos. Mantivemos o programa, e fui o primeiro a chegar. Para esperar, uma caipira de maracujá com carambola e alecrim fresco,….
Irajá 3 - chips de aipim com manteiga de garrafa e grana padano
… servida com a irresistível travessa com chips crocantes de mandioca, com manteiga de garrafa e grana padano. Comi tudo, e não restou uma migalha qualquer.
Driblando as poças espalhadas pela Zona Sul e o trânsito que se instalou pós-temporal, os dois Pedros chegaram quase ao mesmo tempo.
Rufem os tambores. Toquem as trombetas. O show vai começar.
Irajá 1 - mesão
Grupos podem reservar a mesa colocada diante da cozinha, para facilitar a logística do serviço, e aproximar os comensais do chef e sua equipe. O jantar ganha ares de espetáculo, o vaivém na montagem dos pratos, os pedidos chegando através da voz dos garçons, que deixam as suas comandas e levam a comida pro salão.
Com o restaurante lotado mesmo com o dilúvio, nos sentamos no salão principal, nos fundos da casa.
Irajá 5 - vieiras com capuchinho
O primeiro ato, servido no canto do prato, redondo e branco, era uma composição florida e alaranjada: os capuchinhos escondiam vieiras e gomos de tangerina. Levando o trio à boca, tínhamos a cremosidade, os tons marinhos e o leve dulçor das vieiras, o amargor agradável das flores de capuchino e a suculência da fruta, cítrica e docinha. O prazer da simplicidade.
Irajá 4 - Joaquim
 A sommelière Julieta Carrizo contribuiu para o espetáculo, propondo uma harmonização de vinhos certeira, por vezes surpreendente. Para a primeira etapa, escolheu um espumante brasileiro, simples como o prato, sem grandes complexidades, mas leve, fresco e com acidez lá em cima, e borbulhas abundantes.
Irajá 6 - Lagostim com tomate e manjericão
O segundo prato também carregava o espírito zen, a filosofia nipônica do minimalismo e da execução perfeita. A estrela era um lagostim quase cru, fresco e já cortado em pedacinhos (não dá para ver, porque a montagem reproduziu a carne como se estivesse íntegra, mas, já fatiada, tinha as porções exatas para levarmos à boca).  Sobre ele, cubinhos de tomate bem maduro, folhinhas de coentro e um chá clarificado de tomate, bem condimentado, que teve efeito fundamental para tornar a receita ainda mais marcante, dando profundidade e persistência ao conjunto, bem picante e que contava ainda com uma farofinha crocante levemente adocicada, que dava um tapa no sabor e na textura.
Irajá 7 - Chablis Domaine de Vauroux
Para reforçar esse caráter marinho e delicado do prato, nada melhor que um Chablis como este do Domaine de Vauroux, pura alegria mineral, salinidade e frescor.
Irajá 8 - atum com tutano
Depois, um tijolinho de atum cru coroado por um naco de tutano, com brotinhos de beterraba, tiras finíssimas de rabanete, outra farofinha pra dar um crocantezinho e um molho tarê,  denso e rico, agridoce.
- O tutano é o novo foie gras – bem observou o Pedro Mello e Souza.
Depois de três pratos com pescados crus, para começar, fica ainda mais clara a inspiração na cultura gastronômica japonesa.
- É um omakasê filosófico – diz o Pedro em uma de suas visitas à mesa.
Irajá 9 - steak tartare com mostarda gengobre jus de vôngole e folha de couve
Continuamos nos crus. Com tempero marcante de mostarda e gengibre, enrolado em folha de couve e colocado numa poça de jus de vôngole, o steak tartare cortado finamente chegou como um elemento de transição. O mar deixa de ser a estrela dos pratos seguintes. Terra começa a brilhar.
Irajá 10 - burrata com quiabo jus de vôngole couve e gengibre
Assim, a próxima receita era uma burrata de enternecer, cremosa e fresca, salpicada de elementos terrestres: pedacinhos de quiabo defumado, chamuscado no fogo, brotinhos e azeite verde de manjericão. Foi um dos destaques, pelo sabor, equilíbrio e caráter surpreendente.
Para acompanhar, um Avondale rosé, sul-africano floral, com intensidade aromática, arredondando tudo, amaciando a receita, e surpreendendo este escriba, que escolheria um branco para o prato, sem sombra de dúvida. Gosto dessas subversões. Vivendo e aprendendo.
Irajá 11 - burrata com quiabo jus de vôngole couve e gengibre 2
Merece um close.
Irajá 12 - Pedro Mello e Souza em ação
Um cardápio desses, e ainda mais no Irajá, tem que ter uma receita reverenciando o ovo, esses ingrediente tão especial e versátil. No caso, era uma composição de enlouquecer. Na foto, Pedro Mello e Souza em ação, fotografando a finalização do prato.
Irajá 13 - ovo perfeito com costelinha crisp caldo de costela coentro pimenta dedo de moça
Um ovo daqueles perfeitos, gema mole, clara macia. Pedacinhos de costelinha de porco crisp (pode imaginar o que é isso?). Caldo denso e encorpado do cozimento de costela. Folhinhas de coentro. Pimenta dedo-de-moça picadinha. Acho que nem preciso explicar mais detalhes do prato, certo? Parece-me que a descrição basta.
Irajá 14 - ovo perfeito com costelinha crisp caldo de costela coentro pimenta dedo de moça 2
Se não bastar, mais uma foto há de ser o suficiente. A imagem mostra, ainda, a torradinha que acompanha, que podemos usar para furar o ovo, primeiramente, e depois para limpar o prato. O meu voltou limpíssimo para a cozinha.
Irajá - bochecha de cherne castanha-do-pará abacaxi confitado
Aí, como se fosse um clímax, um flashback, voltamos ao mar. Desta vez para saborear bochechas de cherne, com castanha-do-pará e um toque agridoce do abacaxi confitado. Um molho denso, untuoso e rico besuntava a carne do peixe, de sabor imenso.
Irajá 15 - Julieta servindo o vinho beb
Para acompanhar, mais uma pequena e deliciosa subversão, o tinto alentejano .beb, de Tiago Cabaço, leve, fresco e frutado, com espírito moderno, para ser servido mais frio que o habitual.
Irajá - mexilhões cozidos no sangue talharim com tinta de lula e creme fresco de crustáceos
Em seguida, mais mar, mais surpresa.
- Esse é o mexilhão cozido no sangue – anunciou o chef – emendando antes mesmo que eu perguntasse – Abro o marisco na marra, antes de cozinhar. Aí, ele solta um líquido de sabor intenso, que chamamos de sangue. Abro na marra e cozinho os mariscos ali, com aquele líquido, para realçar o sabor – conta.
O prato era pura celebração das iguarias marinhas. O talharim caseiro, delicado, tinha tinta de lula. O mar branco que serve de base era um creme fresco de crustáceos. O pozinho também vinha do mar. Era o chamado “coral”.
- São ovas de camarão secas e transformadas em pó – explica o chef.
Da terra, só umas refrescantes e delicadas folhinhas de manjericão.
Se estamos no mar, que o vinho venha de uma ilha. E o eleito pela Julieta foi o espetacular Tenuti Dettori Renosu Bianco, produzido na Sardenha, um desses vinhaços, dourado, intenso, complexo, salino e mineral, com acidez eletrizante e muita concentração. Feito com longa maturação com as cascas, é praticamente um orange wine insular, marcante, e com preço bom (custa uns R$ 100, na Decanter, e vale cada centavinho).
 Bravo!
Irajá 17 - Pedro de Artagão servindo e Pedro Mello e Souza fotografando
Quando chegou um prato de carne, eu já sabia que o jantar estava terminando. Seria o último curso entre os salgados. Como acontece no Japão. Artagão servindo, Mello e Souza clicando. Penso: ô, sorte esse jantar.
Irajá 18 - Costela 40 horas com saladinha ácida e farofinha de alho tipo oswaldo aranha
Pois bem. Era um peito de boi, wagyu, claro, cozido por 40 horas, em baixa temperatura, perdendo muita gordura, amaciando e concentrando o sabor. Depois, a carne foi à grelha, fogo aberto, como se fosse churrasco, para dar um crocante e um toque defumado. Para finalizar, foi glaceada no molho de seu próprio cozimento. Com tanto poder, untuoso, de sabor carnudo e toda a concentração do preparo, a potência do caldo de cozimento, os tostados, era preciso um toque de frescor. Assim, uma saladinha cítrica, ácida, foi o contraponto que a costela precisava.  O alto teor de gordura imediatamente nos remeteu aos cortes mais nobres do wagyu, dos bem marmorizados.
Irajá 19 - retângulo de tapioca com geleia
Brincadeirinha gostosa foi um pratinho entre o salgado e o doce que veio a seguir. Um bloco de tapioca crocante com uma geleia de frutas, compacta, feita com base em melancia e maracujá, quase um chutney.
Irajá 21 - Terrine fria de morango amora e framboesa com creme de polpa de maracujá
Mais frutas, para encerrar, como geralmente acontece no Japão. No caso, era uma terrine gelada, quase sorbet, um bloco delicado, fresco e saboroso, feito com maracujá, morango, amora e framboesa, coberto de florezinhas, ao lado de um creminho.
Irajá 20 - cachaça Fazenda Soledade Jequitibá
Com tanta delicadeza, a Julieta sacou da cartola uma pinga de alta qualidade, a Fazenda Soledade Jequitibá, curtida nesta brasileiríssima madeira.
E assim, curtindo a potência da pinga e o frescor das frutas, encerramos um memorável jantar de gala. Impressionante, delicioso, marcante.
Bourbon County
De lá, leves, felizes e inebriados, ainda fomos parar nas mesas do Delirium Café. Provamos cervejas especialíssimas, como esta magnífica Bourbon County, uma stout da pesada, amadurecida em barricas usadas na produção do tradicional destilado de milho dos Estados Unidos (a foto é do Instagram: @brunoagostinifoto). Uma doideira de cerveja. Mas isso é assunto pra outro post…
Para ler a crônica do Pedro Mello e Souza, clique neste link aqui.
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Vem aí o Bonde do Becoza, uma van que vai percorrer os botecos do Rio de Janeiro na ilustre companhia de Juarez Becoza, colunista da revista Rio Show

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A famosa costela assada no bafo do boteco Cachambeer que eu posso apostar está entre os que serão visitados pela turma

A famosa costela assada no bafo do boteco Cachambeer que eu posso apostar está entre os que serão visitados pela turma

Meu amigo Juarez Becoza, colega de jornal O Globo, é um sujeito admirável. Colunista quinzenal de botequins da revista Rio Show, trabalha de maneira incansável em busca de descobrir os melhores botecos do Rio de Janeiro. Cidade e estado. Já tive a feliz oportunidade de acompanhá-lo em algumas dessas investidas, e posso garantir: ir a um botequim com ele é muito divertido.

Para este 2014 , ano promissor, ele apresenta uma novidade muito bacana, tanto para os cariocas quanto para os turistas que visitam a cidade. Novidade esta fresquinha que eu cumpro o prazer de divulgar.
Deixo o próprio explicar o que é o “Bonde do Becoza”. Eu, por exemplo, quero me programar para fazer o roteiro de Nova Iguaçu, que exige uma certa logística, não é verdade?

P.S. – A mensagem é do final de 2013, mas só descobri hoje a incrível novidade.

VEM AÍ O BONDE DO BECOZA! – Por Juarez Becoza

“Caros amigos, colegas e leitores:
Queria desejar um feliz Natal a todos e aproveitar esse momento de festa para divulgar mais uma: o BONDE DO BECOZA!
Entre janeiro e março de 2014, vou realizar saídas regulares para levar turistas e cariocas para passeios pelos botequins mais pitorescos do Rio.
As saídas serão em vans para até 12 pessoas, aos sábados e domingos, sempre passando por quatro bares. Em cada um deles, haverá uma seleção de petiscos escolhidos por mim e, claro, cerveja e refrigerante à vontade.
Serão quatro possibilidades de passeio, à escolha: uma pelos bares da Zona Sul, uma pelos botecos da Zona Norte, outra por estabelecimentos do Subúrbio e ainda uma quarta – esta para caçadores “avançados” de boteco – que rodará pés-sujos de Nova Iguaçu (sim, amigos, lá tem cada bar que tem te conto!).
Cada saída terá um preço fixo por pessoa. É entrar na van e não se preocupar com mais nada que não seja comer, beber e se divertir. No trajeto entre um bar e outro, água à vontade, pra reidratar, e histórias pitorescas sobre os bares, seus donos e frequentadores, que eu mesmo terei prazer em compartilhar. No fim da viagem, quem quiser leva pra casa uma brochura com a ficha completa dos bares visitados, o mapa do passeio e a reprodução das minhas resenhas sobre estes lugares, publicadas ao longo dos últimos dez anos no Globo.
É o BONDE DO BECOZA! A partir do dia 11 de janeiro!
Para mais detalhes e reservas, basta entrar em contato comigo aqui pelo Facebook ou diretamente pelo telefone: (21) 99375-7580.
Um abraço, Feliz Natal e até 2014!”

 

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Peixes e frutos do mar brilham no menu de verão do D’Amici: sabor, simplicidade, leveza, frescor

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Nesses últimos dias, para a minha própria felicidade e alegria, tenho vivido à base de peixes, frutos do mar, espumantes e vinhos brancos, com algumas raras exceções, como um hambúrguer no Irajá ou um bife de chorizo na Parrilla, em Teresópolis. Tem sido assim desde meados de dezembro, quando o calor se instalou com força aqui nos trópicos, inspirando menus mais leves e delicados.
Quando salivo lembrando de pescados frescos, um dos primeiros restaurantes que eu penso é o D’Amici, um porto seguro para peixes e frutos do mar. Fazia uns dois anos que eu não ia até a simpática casa do Leme para comer a comida do chef Antônio Salustiano, que comanda a cozinha. Desde sempre, os peixes e frutos do mar estiveram entre as suas especialidades. Na semana passada eu almocei ali, e a primeira boa surpresa foi encontrar o jovem e competente sommelier Paulo Limarque, que eu havia conhecido há quase dois anos, no Guy.

D Amici 2 - Cave Geisse Nature

Competente mesmo, tanto assim que sugeriu um dos grandes espumantes brasileiros, o Cave Geisse Nature, gastronômico e elegante por natureza, para começar. Sempre digo que começar uma refeição com um champanhe é um bom indício do que virá a seguir. O mesmo vale para todos os vinhos da Cave Geisse, pra mim a mais importante vinícola do Brasil, mesmo diante do tamanha relativamente acanhado (foram eles que deram a maior projeção internacional aos nossos vinhos).

D Amici 1 - antipasti
Com ele na taça, cumprimos as duas primeiras etapas. O couvert, com pães quentinhos, que me fez extrapolar a minha cota de pizza bianca para aquela semana: crocante, delicada, saborosa. Evidentemente que também petisquei o pratinho com grana padano, mortadela, presunto de Parma e salame.

D Amici 3 - carpaccio trimare

Logo em seguida, o chamado carpaccio trimare, linda composição, com lula, polvo e salmão, temperados com azeite e ervinhas, e umas rodelas de aspargos. Belo prato, boa sacada. Repare só. A lula recebe o recheio do seu primo polvo e do salmão, para então ser finamente fatiada. Simples, fresco, saboroso, original. O prato entrou no cardápio de verão, e não sei até quando fica em cartaz.

D Amici 4 - salada de camarão com manga
Então, foi a vez da levíssima salada da camarões grelhados com amêndoas e manga, onde enxerguei três acertos fundamentais: o ponto de cozimento do crustáceo e o ponto de madurez da fruta, amarelinha, docinha, divina, além do toque crocante das amêndoas. Bingo! Outra receita da estação, com prazo indeterminado.

D Amici 5- bacalhau com feijão
Ainda bebíamos o Cave Ceisse Nature quando o próximo prato chegou. Uma salada de bacalhau com feijão, combinação clássica reinventada. O bacalhau, salgado como deve ser, com sabor intenso, os grãos íntegros, o tempero acertado.

D Amici 6 - Bouza Chardonnay
Na taça, um vinho de uma bodega querida, o uruguaio Bouza Chardonnay, puro refresco, um belo vinho desta uva, muitas vezes mascarada pelo uso excessivo da madeira. Beleza pura.

D Amici 8 - vermelho com endívias
Para encerrar, duas delicadezas. Uma marinha, outra francesa. Do mar, vermelho ao forno com alho poró, vinho branco e endívias era tudo o que eu precisava para um almoço de verão: sabor, simplicidade, leveza, frescor.

D Amici 7 - Mâcon-Villages

Para acompanhar com esses mesmos predicados (sabor, simplicidade, leveza, frescor), Paulo Limarque serviu um lindo Borgonha, o Macôn-Villages 2012 do Domaine Eloy, a glória para um dia quente. Mais um prato do menu de verão, que realmente está muito bom e de acordo com o clima da estação, tudo muito leve e fresco.
Éramos três, e fechamos o almoço divinamente incrível com um petit gâteau de goiaba servido ao lado de um sorvete de queijo. Romeu e Julieta em verão francófila com tempero italiano. Uma coisa assim, deliciosa, outro item fora do cardápio regular da casa. Saí de lá leve e faceiro, feliz e contente, levando um único peso na consciência: não posso, jamais, ficar dois anos sem ir ao D’Amici. Não posso mesmo. Jamais ficarei.

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Casa do Sardo: verdadeira cantina italiana em São Cristóvão, com comida boa e preços justos, um alento em tempos de Rio $urreal

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No ano de 2012 eu me encantei com os vinhos da Sardenha, a bela ilha italiana. Neste mesmo ano, em fevereiro, abria as portas, no bairro de São Cristóvão, a Casa do sardo, uma verdadeira cantina italiana. Passei o ano de 2013 inteiro escutando elogios a respeito do lugar. Não só porque a comida é boa, mas porque – em tempos de “Rio $urreal” – os preços são bem acessíveis (no final do post, o cardápio completo da casa).
Finalmente, na semana passada, fui visitar o lugar. Já que o intuito é economizar, embarquei no metrô e saltei na estação Afonso Pena, e peguei um táxi (ou seja, com R$ 15 cheguei lá). O ideal seria pegar a transferência para a Linha 2, e saltar na estação São Cristóvão, mas o calor me impediu.

Casa do Sardo - salão 1
Cheguei pouco depois do meio-dia, e o restaurante estava absolutamente lotado, com pequena fila de espera na porta.

Casa do Sardo - decoração

Acabei conseguindo uma mesa rapidinho, no canto, com vista para o salão, que tem decoração rústica, como convém a uma cantina.

Casa do Sardo - Vermentino di Sardegna
Para começar, um branco refrescante e bom de preço, o Vermentino DOC Sella & Mosca, vendido a R$ 66 na carta. Sa Sardenha, claro.

Casa do Sardo - bruschetta e vinho 2
Para a entrada, fui na bruschetta, com coberturas simples sobre o bom pão da casa. Fui nos clássicos, tomate e cogumelos.

Casa do Sardo - gnocchi
Era dia 29, não tinha me dado conta. Dia de gnocchi della fortuna. Como ando mesmo precisando de um dinheirinho, não pude evitar pedir a massa. Escolhi, assim, uma receita que está entre os pratos mais emblemáticos da Casa do sardo, segundo consta: o gnocchi di baroa ai gamberi e rucola, ou seja, nhoque de batata baroa com camarão e rúcola, um toque verde-amarelo, incluisve na cor do prato, no cardápio italiano do restaurante.
Estava muito bom, massa saborosa e bem cozida, um molho umedecendo o fundo do prato, os camarões de bom tamanho no ponto certo, as folhas de rúcula desmaiadas. Custou R$ 37. Considerando que o dólar está ali por volta de R$ 2,50, sai na verdade a R$ 34,50.
Satisfeito, pulei a sobremesa. E agora, preciso voltar. Saí de lá com vontade de provar muita coisa, novamente bebendo um vinho branco da Sardenha, como o ravioli di Sardegna “culurgiones”, uma massa fresca recheada com batata, pecorino e hortelã, ao molho de pomodoro; o tortelloni Casa do Sardo, “prato descrito pelo garçom”, segundo o menu, cuja descrição não ouvi, mas que já gostei; o risoto de camarão com aspargos; a aragosta alla catalana, um bem cotado prato de lagosta, feito apenas quando tem produto fresco (o que não é o caso de agora, tempo de defeso); o polpo alla marinara, feito inteiro, cozido no vinho branco, com azeite, salsinha, aipo e filé de tomate fresco, e o gamberoni innamorati, camarões tipo VG, envoltos em bacon e louro.

Casa do Sardo - salão 2
Restaurante bom é assim. E sai com vontade de voltar. Ainda mais com esses preços. Em tempos de Rio $urreal, uma Casa do Sardo é um alento. Comida boa, preços justos, serviço simpático e eficiente, em um lugar bacana. Não à toa, vem ficando lotado.
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Agora, o menu. Algumas fotos estão meio prejudicadas pelo reflexo, mas se pode ter uma boa noção do cardápio e seus preços (no final, uma pequena amostra da carta de vinhos, que acompanha a filosofia da casa, de cobrar preços justos). Para ampliar, clique na imagem.

Casa do Sardo - cardápio 1 - gnocchi

Página 1, gnocchi della fortuna, em cartaz todo o dia 29 (este mês não tem).

Casa do Sardo - cardápio 2

Página 2, antipasti e algumas massas.

Casa do Sardo - cardápio 3

Página 3,  mais algumas massas, e risotos.

Casa do Sardo - cardápio 4

Página 4, carnes, peixes e frutos do mar.

Casa do Sardo - cardápio 5

Página 5, saladas e pratos infantis.

Casa do Sardo - cardápio 6

Página 6, bebidas, exceto vinhos (logo abaixo), e sobremesas.

Agora, uma amostra da carta de vinhos (não fotografei inteira, só uma página de brancos e outra de tintos, para dar uma noção dos preços. Um dos destaques é a boa oferta dos vinhos da Sardenha, que andam em alta em todo o mundo.

Casa do Sardo - Carta de vinhos 1

Página 1, dos vinhos brancos.

Casa do Sardo - Carta de vinhos 2

Página 2, dos vinhos tintos.

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Uma noite alla italiana na casa da Alessandra Sposetti, no Leblon: aula de cozinha, menu refrescante e alto astral

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Não é só aqui. Essa é uma deliciosa febre mundial. Na Europa, nos Estados Unidos, em vários países latino-americanos, no Caribe, no Brasil. Muitas pessoas abrem as cozinhas de suas casas para receber gente interessada em apredender receitas interessantes ao redor de uma mesa agradável, bebendo um bom vinho, papeando, ouvindo músicas e, é claro, fazendo um jantar participativo e descontraído.
Tem até um site ( http://www.eatwith.com/#!/ ) que lista vários desses cozinheiros, gente que ama a boa mesa e veste o avental de professor. Aqui no Rio, por exemplo, tem muita gente fazendo isso. A minha amiga querida Manu Zappa, que criou o Prosa na Cozinha (prosanacozinha.com.br), em seu apartamento do Leblon, recebendo gente bacana para aulas-jantares, que também podem acontecer na casa das pessoas. Tanto sucesso, que na semana que vem ela inaugura um café no Jardim Botânico, na rua Lopes Quintas, bem a lado da simpática loja Dona Coisa.
Outra amiga que organiza eventos do gênero é a Gueta Ridzi, do Dona Gueta (www.donagueta.com.br), que cozinha na casa das pessoas, ou em clubes e afins.
Na semana passada, finalmente conheci a Alessandra Sposetti, cozinheira italiana de mão cheia, que recebe pequenos grupos, às quintas e sextas, em seu simpático apartamento do Leblon. Na agradável cozinha aberta, junta a um mesão de madeira, o cardápio é sempre italianíssimo, seguindo as estações, os sabores do mercado. A trilha sonora embala os trabalhos, ao som – por exemplo – do italiano Rino Gaetano. Bravo!
Conheci a Alessandra através do Facebook, depois de uma reportagem que fiz sobre a Toscana (o link está aqui). Fiquei sabendo dos seus eventos caseiros, e depois ainda tive mais detalhes deles através de outra amiga, a Ligia Ghizi, amante da boa mesa e “food hunter” dos Destemperados no Rio de Janeiro, onde cultiva um delicioso blog.
As aulas acontecem às quintas e sextas, a partir das 19h30. Para mim, dias e horários são pouco convenientes, e assim levei mais de um ano até conseguir estar lá, pouco depois das 20h, ainda no comecinho do programa.
Perdi o início da preparação da sobremesa, sorbet de café, que mostro lá no final.

Alessandra Sposetti 1 - vinho

Aceitei logicamente o vinho que está incluído no preço (R4 140), que inclui a aula, a comida, a bebida, a trilha sonora e o clima descontraído.

Alessandra Sposetti 3 - mesa 2
Noite legal, e barata diante dos preços aos quais estamos acostumados por aí.

Alessandra Sposetti 4 - insalata
A primeira etapa foi a deliciosa salada de atum sotto’olio com feijão branco, temperada com cebola roxa, azeite, limão siciliano e uma salsinha picadinha, e um bocadinho de pimenta-do-reino moída na hora.

Alessandra Sposetti 5 - insalata 2

Delícia. Pra você ver só. Outro dia, comi a mesma salada no Satyricon, simplesmente no Satyricon, o melhor restaurantes de pescados da cidade. O da minha aula estava melhor.

Alessandra Sposetti 6 - pão
Pois vamos em frente, saboreando a salada com um copo do vinho, molhando o pão naquele caldo cítrico e saboroso, papeando, fotografando, filosofando.
A etapa seguinte era uma massa com lula, feita com molho de tomate-cereja, pimenta calabresa, vinho branco e azeite.
– Mas e como fazer pra lula não ficar dura? – pergunta a aula.
– Ah, tem que usar ela bem fresca. Pode congelar, mas tem que comprar fresca – respondeu a chef-professora, que compra os seus pescados no Posto 6, direto dos pescadores, e os ingredientes no Zona Sul, incluindo o bons vinhos servidos.

Alessandra Sposetti 7 - calamari
De fato, deixamos o molho apurar bom um bom tempo.

Alessandra Sposetti 8 - mesa 3Cozinhamos a massa al dente.

Alessandra Sposetti 10 pasta ai calamari

Um farfalle De Cecco. Al dente, claro.
E novamente brindamos com o frescor o catalão Mas Rabell, branco gostoso mesmo da família Torres.

Alessandra Sposetti 11 granita di caffè
Enquanto isso, era explicado novamente como se fazer a granita di caffè com panna (não sabia, por incrível que pareça, já que adoro o pannacotta, que panna é chantilly). Delícia refrescante, facílima de fazer.
Eu vou tentar em casa, com limão siciliano, sem chantilly. Só pra dar um refresco.
Esta semana o cardápio está apetitoso. Veja.
A entrada é a focaccia pugliese (focaccia da região Puglia, a base de farinhas de trigo e batatas).
O prato principal é o pesce del giorno al forno con patate (peixe fresco do Posto 6 assado ao forno com batatas e temperos). Para a sobremesa, sorbetto di limone (sorbê de limão siciliano).
Vou te falar uma coisa, baixinho. Cara, R$ 140 por uma noite dessas, com uma comida muito boa, alto astral, regada a vinho de qualidade e adequado ao menu, em local agradável assim, com trilha sonora da boa. Tá barato pacas.
Depois de ver umas fotos no Instagram (@brunoagostinifoto), a Ligia Ghizi, uma das “food hunters” cariocas dos Destemperados, me disse. “Bruno, tem que provar o gnocci ao ragu de pato”, ou algo assim.
Sempre quis aprender a fazer gnocci, prato que adoro e tenho imenso respeito. Faço um respeitável ragu de pato, modéstia à parte. Quer aperfeiçoar. Já me inscrevi na aula, que acontece ali pelo outono, quando o cardápio dá uma encorpada conforme os termômetros vão baixando.
Visitar a Alessandra Sposetti foi uma linda descoberta.

Se animou?
Fala com ela: 98137-4773 ou  alessandra.sposetti@gmail.com

Eu curti muito.

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Rio de Janeiro a Dezembro entra em recesso para reformulação

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Amigos, infelizmente não tenho conseguido fazer posts com a frequência que um blog exige. De modo que, por ora, vou deixar este querido espaço sem atualizações até que consiga reformular as minhas atividades.

Agradeço de coração as visitas, que eu espero continuem acontecendo, já que o blog continua no ar neste momento de transição.

Por ora, vocês me encontram lá no blog Enoteca (http://oglobo.globo.com/blogs/enoteca/), nas páginas do Boa Viagem, da Revista O Globo e na edição digital,  O Globo a Mais, exclusiva para tablets, onde escrevo às segundas sobre vinhos, além do caderno Ela, com reportagens esporádicas, e em outras publicações para as quais eu colaboro, como Wish Report e Eatin’ Out, entre outras.

Obrigado pela ilustre companhia nesses quase cinco anos de blog, com 721 e quase um milhão de visitantes únicos. Foi sempre uma alegria escrever aqui.

Um forte abraço.

P.S. – Aproveito para deixar o link para o post mais importante deste blog, onde organizo todo o conteúdo. Para ler o “Índice de posts de bares e restaurantes na cidade do Rio de Janeiro”, clique aqui. 


Plunct, Plact, Zum… Pode partir sem problema algum

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O Plunct Plact Zum... Pode partir sem problema algum

O Plunct Plact Zum…
Pode partir sem problema algum

Durante cinco anos eu mantive dois blogs, o que me deixava ligeiramente confuso. Um dedicado ao Rio de Janeiro, de uma maneira geral, mas voltado principalmente para as crônicas sobre bares e restaurantes, e outros endereços gastronômicos. Trata-se mesmo deste Rio de Janeiro a Dezembro, que hoje volta à ativa. Outro sobre vinhos, chamado Enoteca, e hospedado no site do jornal O Globo, onde eu trabalhava até o mês passado, como editor assistente do caderno Boa Viagem. Manter dois blogs era confuso, porque naturalmente o vinho e o Rio de Janeiro, onde moro, se cruzavam, e eu tinha dúvidas sobre o que postar em cada um. E muitos dos melhores conteúdos que eu conseguia nas minhas andanças mundo afora eu reservava para o jornal, para as matérias das revistas Boa Viagem, às quintas, e O Globo, aos domingos. Agora, não. Vou reunir tudo aqui, como um laboratório para o site que quero criar a partir do próximo ano, um espaço democrático e interativo, de produção de conteúdo e troca de experiências relacionadas ao universo da gastronomia e do turismo, envolvendo vinhos, cervejas e outras cachaças, como diz um amigo. Um site para se encontrar boas histórias, novidades quentinhas e dicas relevantes sobre o mundo das viagens e da boa mesa, que se cruzam praticamente o tempo inteiro, porque um dos grandes prazeres de qualquer viagem é comer e beber, da mesma forma que esta é a melhor maneira de se tatear a cultura local, e de se experimentar as tradições de qualquer lugar. Com descontração e bom humor, mas com seriedade também. A ideia também é publicar algumas receitas, falando de harmonização de vinho (ou cerveja) e comida.
É com alegria que retomo os trabalhos.
Obrigado pela companhia.
E vamos viajar. Plunct, Plact, Zum… Pode partir sem problema algum


Rumo à Borgonha, com parada em Paris: blog volta das atividades em grande estilo (vem comigo)

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O simpática bar  Ambassade de Bourgogne, em Paris, com vinhos inteiramente dedicados à região francesa

O simpático bar Ambassade de Bourgogne, em Paris, com vinhos inteiramente dedicados à região francesa

E este blog Rio de Janeiro a Dezembro retoma as atividades em grande estilo. Já estou na sala de embarque do Galeão. No final da tarde decolo em direção a Paris, onde faço um saboroso pit stop antes de partir rumo à Borgonha, de trem (vai ter um jantar incrível no Palais de Tokyo).
O roteiro na Borgonha tem uma incrível seleção de restaurantes, incluindo nomes como Maison Lameloise e o relais Bernard Loiseau, além de visitas a toneleiros, em Mersault, e a fabricantes de mostarda, em Fallot, uma escapada até Chablis, Beaune, Pommard, Auxerres, Vézelay… Além de momentos de relaxamento no spa do Relais & Châteaux La Côte Saint Jacques & Spa (onde, aliás, jantamos), porque ninguém é de ferro…
Na última vez que estive em Paris, em abril, eu dediquei parte do meu tempo na cidade justamente a fazer uma matéria sobre a Borgonha: lugares especializados nos vinhos, e na cozinha deste região francesa, paraíso de qualquer enófilo, disposta entre Dijon, ao norte, e Lyon, ao Sul, considerando aí a região de Beaujolais. São endereços como o Ambassade de Bourgogne, que aparece na foto que ilustra este post. Para ler a matéria, clique aqui.
Também aproveitei aquela viagem para jantar no restaurante de Alain Ducasse, no Le Meurice (agora, o chef reabriu a sua cozinha no recém-reformado Plaza Athenée, que vou tentar visitar amanhã para ver como está depois das obras), além de outras aventuras gastronômicas que ainda não posso contar (mas que em breve você verá em alguma banca perto de você). Para ler a matéria do Alain Ducasse, clique aqui.

Paris é sempre bom, mas eu gosto ainda mais no outono, ou comecinho do inverno, com seu frio acolhedor, ruas mais vazias, e a possibilidade de se agasalhar para caminhar por suas ruas de rara beleza, um charme urbano poucas vezes visto. Paris…Sempre fico feliz indo a Paris.

Vou ficar feliz em ter a sua companhia nesta viagem, ainda mais porque inaugura uma nova fase deste blog.

Vem!
Mais matérias de Paris?
Este post aqui tem links para várias delas, feitas por mim.

E mais:

- Bistronomiques: 10 restaurantes em Paris que você precisa conhecer

- Um flaneur gourmet em Paris

- Dicas gastronômicas de Paris por Roland Villard

- As melhores baguetes e o primeiro bistrô de Paris em Montmartre

- Cenário de cinema, diversão e arte, Canal Saint-Martin agrada a turistas e parisienses

- Três harmonizações clássicas testadas e aprovadas em Paris

- Os sete palácios capitais: os hotéis mais chiques de Paris

- Os sabores da tradição nos balcões clássicos de Paris

Mais Borgonha?

- Nuits-Saint-Georges: a elegância encorpada da Borgonha

- Queijos na França: da Normandia à Borgonha

- Borgonha popular: geralmente caros, existem tintos a menos de R$ 100

- Os brancos da Borgonha, o elegante e profundo reino da Chardonnay

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L’Ecluse: um belo bar de vinhos de Bordeaux com sete unidades em Paris

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Sei que Bordeaux não anda lá muito na moda. Porém, Bordeaux é Bordeaux. E, no mais, a partir de amanhã passarei quatro dias só bebendo Borgonha…

A fachada do L'Ecluse, um belo bar de vinhos na 64, rue François 1er (Paris 8ème)

A fachada do L’Ecluse, um belo bar de vinhos na 64, rue François 1er (Paris 8ème)

E um bom lugar para beber rótulos de Bordeaux é no L’Ecluse, um bar de vinhos com sete unidades em Paris, criado em 1978. Uma delas fica a poucos passos da Avenue George V, numa transversal tranquila (o endereço é número 64 da rue François 1er – Paris 8ème). O lugar, com decoração simpática, tem jeitão de bistrô típico parisiense, e são servidas comidinhas para acompanhar a bebida. A carta tem cerca de 30 vinhos vendidos em taça: são cinco brancos, um clairet, 22 tintos e outros dois “vins blancs liquoreux”, doces, tipo Sauternes.

O bar tem duas Enomatics, uma com seis e outra com 12 torneira

O bar tem duas Enomatics, uma com seis e outra com 12 torneiras

Os vinhos são vendidos em porções de 100 ou 150 ml, com preços entre 3,80 euros (100 ml do Domaine de Saint Amand 2012) e 10,80 euros (100 ml do Château Grand Puy Lacoste 2006, um Pauillac de respeito). As garrafas abertas ficam devidamente acondicionados em duas Enomatics que dominam a decoração do bar; uma com seis torneiras; outra com 12.

No total são pelo menos 30 vinhos de Bordeaux vendidos em taça

No total são pelo menos 30 vinhos de Bordeaux vendidos em taça

Dá para fazer várias visitas sem repetir nenhum vinho, e vale a pena escutar as sugestões do atendente no balcão. Já virei cliente, e sempre que passo por ali acabo entrando para relaxar as pernas ao sabor de um bom vinho.

Uma taça do La Réseve de Leoville Barton 2009 custa 8,70 euros

Uma taça do La Réseve de Leoville Barton 2009 custa 8,70 euros

Desta vez, motivado pelo friozinho bom que fazia do lado de fora, fui no La Réseve de Leoville Barton. Uma bela taça de boas-vindas à França.

Tim tim!!!

Mais informações no site do L’Ecluse.

 


A chegada em Paris, e um inesperado almoço três-estrelas no Le Cinq

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Durante minhas viagens de trabalho é relativamente comum que eu coma duas vezes em uma refeição. Já cheguei ao cúmulo, num gordo exercício de reportagem que jamais repetirei, a visitar seis restaurantes em um mesmo dia, e comendo em todos eles (fazendo, inclusive, dois longos menus degustação, um no almoço, outro no jantar), durante uma viagem para Buenos Aires, para uma matéria sobre os melhores restaurantes da cidade (e para ler as matérias sobre os melhores lugares para se comer na capital argentina, clique aqui ou aqui).
Geralmente eu me planejo, de modo que controle os horários e também o que vou pedir em cada lugar, para que não haja exageros. Ontem, porém, almocei duas vezes, sem ter me programado para isso.
Começando do começo… Cheguei ao meu hotel em Paris, Le Bristol, dos meus preferidos. Subi ao quarto, tomei um banho e fui pedir indicações ao concierge. Queria um bistrô não muito longe dali, que fosse tradicional, e frequentado pelos moradores de Paris. Ele acabou me indicando três, e escolhi o Chez Savy, brasserie inaugurada em 1923, numa pequena rua transversal à Avenue de Montaigne.

Paris 1

Cheguei, gostei do lugar, e pedi um pichet de Borgonha genérico, para ir entrando no clima.

Paris 2

O couvert tinha tudo o que eu precisava: um patê sensacional, e um pão idem.

Paris 3
Para o prato, escolhi um pato confit com batatas, lamentando ainda não ser quarta-feira (ou seja, amanhã),…

Paris 4

… quando terá início da temporada de carnes de caça, com javali, veado, lebre e outros simpáticos bichinhos que estão começando a ilustrar os cardápios europeus.
Terminei de comer, e pedi a conta, junto com a senha do wifi para dar uma espiada nas mensagens, e ver se tinha algo urgente. E tinha, sim. Era uma mensagem da relações públicas da rede Four Seasons no Brasil. O relógio marcava 13h50, e o texto dizia o seguinte. “Bruno, você poderia almoçar no Le Cinq? Tenho uma reserva para vocês âs 14h, me confirma?”.
Confirmei, claro, pedindo para chegar às 14h15. E lá fui eu…
Em menos de dez minutos de caminhada, e  lá estava eu na porta do hotel George V. Pego de surpresa, não tinha paletó, que foi providenciado por eles.

Paris 5
Salão lotado, mesmo no almoço. Vi um casal de japoneses comendo com admiração e tranquilidade, e outro casal, festejando algo importante, muitos executivos também. Eu mal me acomodei na mesa, e chegou o garçom oferecendo uma taça de champanhe. Vai perguntar se macaco quer banana? Aceitei, e era um rótulo que eu ainda não conhecia, um rosé topo de gama da Lanson, o Noble Cuvée. Muito bom, fino e delicado.

Paris 6
Foi com ele em mãos que recebi contente o amuse bouche: um trio de delicadezas. Uma bola de textura macia, com sabor de gengibre e campari; um crocante de cebola com raiz forte e o melhor de tudo, uma combinação de foie gras com maracujá, algo muito usual, mas neste caso com um troque de café, que fez toda a diferença, causando surpresa e entusiasmo.

Paris 7

Mais amuse bouche. Um  jus de cèpe com ecrevisses e foi gras, e uma pétala de rosa com uma gota de mel ao lado.

Logo chegaram os pães, e as manteigas, com ou sem sal. Até lamentei ter comida o (delicioso) confit de canard… Queria ficar ali, revezando-me entre a baguete crocante e um pão escuro, meio integral. Mas achei por bem cessar esta irresistível degustação, para poder chegar com alegria ao final da refeição, que pelo o seu começo prometia ser incrível, como de fato foi (ninguém tem três estrelas Michelin à toa).
Já cheguei ao restaurante sem fome, de modo que para mim ficou mais evidente a qualidade da comida. Porque eu não tinha o melhor tempero, como se diz, que é justamente a fome.
Acatei todas as quatro sugestões do garçom, que me mostrou o menu indicando os pratos mais emblemáticos do chef Christian Le Squer.

Paris 8
O primeiro prato foi um assombro, em forma de “hommard bleu”, a deliciosa lagosta azul, servida com um toque de pimenta, uma espécie de geleia rala de grapefruit, endívias e um molho cremoso de manteiga. E se o prato já estava lindo com o champanhe, imagine quando chegou o sommelier da casa, Eric Beumard, um dos melhores do mundo, trazendo o vinho sugerido para ele.

Paris 9

Um Risling alsaciano, de produtor que eu não conhecia, com ligeiro açúcar residual, difícil de se notar devido à acidez pontiaguda. Aí, sim!!!
- Eu não sei se o senhor vai se lembrar, mas nós almoçamos juntos, lado a lado, em 2006, no restaurante D.O.M., em São Paulo, quando visitou a cidade. Naquela época eu trabalhava na revista Viagem e Turismo, e vivia em São Paulo. Hoje moro no Rio – eu comentei.
- Ah, sim, eu me lembro. Bem que notei que seu rosto não me era estranho – respondeu ele, saindo da minha mesa e ainda fazendo um gestual relativo à passagem do tempo – 2006… Bah, muito tempo…

Paris 10
Logo chegou o segundo prato. Um pedaço alto, com sete centímetros de altura, como havia informado o tal garçom que fez a sugestão, de turbot selvagem. Era um dado de carne branca e delicada, com textura firme, que estava colocado sobre uma cama de batatas, em molho leve, mesmo que feito com creme de leite, aerado. Sobre tudo, um pedacinho de trufa negra em formato quadrado, montando o prato minimalista em preto e branco, lindo de se ver, e ainda mais de comer.

 

Paris 11
Aí, então, veio o grandioso Chassagne-Montarachet Clos Saint-Jean 1er Cru, do Domaine Michel Niellon, vinhaço este que – por coincidência – eu havia provado na minha última visita a Paris, em abril passada, durante outra refeição de gala, um jantar no restaurante comendado pelo chef Alain Ducasse no hotel Le Meurice (para ler a reportagem, clique aqui).
Este é o caso típico de harmonização que trai a lógica, e desfaz os conceitos matemáticos. 1 + 1 = 3. O vinho melhora a comida, e comida melhora o vinho. E, assim, fui economizando cada gole, cada garfada (na verdade, o talher para este prato era quase uma combinação de colher, quase chata, com garfo, já que na ponta havia uns dentinhos, para podermos saborear o caldo e espetar a carne).

Paris 13
O prato prncipal, assim como o resto, entrou para uma espécie de galeria de honra que cultivo no meu peito: a de pratos preferidos de toda a vida. Sim, era um “ris de veau”, ou timo de vitelo, como se diz no Brasil, onde a iguaria (sabe-se lá por quais razões) é rara, ou sweetbread, em inglês, ou ainda molleja, como se diz na língua espanhola, mais familiar assim aos brasileiros que visitam a Argentina ou o Uruguai, dois povos loucos por este miúdo de sabor marcante, textura macia e muita untuosidade.
Eu, que sou apaixonado por “ris de veau” só havia comida uma vez a pela assim, inteira (tinha sido no La Cabrera, em Buenos Aires – aliás naquela mesma viagem das seis refeições que relatei no início do texto).
A carne vinha espetada por duas hastes de capim-limão, que lhe emprestavam um agradável sabor herbáceo, algo cítrico, além de uma inusitada beleza. Duas coisas me causaram ainda mais alegria (sem contar os nacos crocantes de alguma castanha que coroavam a carne).

Paris 12

A primeira: o vinho servido em cestinha de prata era um Gevrey-Charbertin desses de encanto, combinação de delicadeza e potência, elegância e profundidade, frutas e sabores terrosos. Era um exemplar ainda jovem, de 2009, mas delicioso de se beber, produzido pela pequena vinícola Sérafin Pére & Fils. A segunda: por debaixo do “ris de veau” havia cubinhos salteados de cogumelos, e um molho verde que quebrava qualquer resquício de monotonia.

Paris 14
Jamais recuso o carrinho de queijos. Pedi, como sempre faço, os mais intensos, de sabor marcante. Desculpem, mas não sou capaz de decorar os nomes dos queijos (o genial Charles de Gaulle, que entre outras frases brilhantes, como “O Brasil não é um país sério”, disse certa vez que é impossível governar um país que tem mais de 300 queijos diferentes, e ele se referia à França, claro – que, aliás, tem hoje mais de mil variedades distintas). Confesso que não estava animado a anotar, porque estava relaxado, curtindo o momento. Só me lembro que havia um camembert bem maduro e fedido, do jeito que a gente gosta.

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Como se já fosse pouco isso, ainda veio o complemento perfeito à degustação dos queijos: um porto 1986…

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POis, voilá, era hora da sobremesa. O pré-desert chegou em forma de um potinho de frutas cítricas com salsinha, para limpar a boca, além de pequenos bocados.

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Em seguida, outro momento de antologia gastronômica, uma bem montada combinação de chocolate com caramelo e nougat. Ulalá!!!, como dizem os franceses, foi o que pensei quando, ao dar a primeira garfada, fui brindado ainda com o melhor Banylus que já bebi, de safra 1989.

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Dispensei o café, mas numa ato de gentileza o garçom me trouxe uma bandeja com chocolatinhos, e também uma caixa com alguns petit fours. E essa massinha folheada, crocante que só ela, com amêndoas carameladas.
Agradeci, feliz, já imaginando a alegria da filha ao provar os docinhos, no próximo domingo, quando chego ao Brasil.
Caminhei muito ontem, como gosto de fazer em qualquer cidade, ainda mais em Paris, e para não dizer que foi tudo perfeito, ganhei uma baita bolha no calcanhar. Achei merecido. A felicidade, a alegria, para serem inteiras, precisam ter um bocadinho de tristeza.
Mas só um bocadinho mesmo. Porque no momento em que escrevo este texto estou no trem. A caminho da Borgonha, onde fico até sábado. Se não me perdi nas contas (se fosse bom em matemática não seria jornalista) vamos saborear nada menos que 12 estrelas Michelin, com direito a três restaurantes com o prêmio máximo da gastronomia mundial, as três estrelas do Guide Rouge. Caramba!!!

Mais informações sobres os restaurantes nos sites do Chez Savy e do Le Cinq.


Michel Onfray: “Temos que aprender novamente a sentir o gosto natural das coisas”

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Anne-Sophie y Gastón: os dois chefs filosofaram sobre gastronomia

Anne-Sophie y Gastón: os dois chefs filosofaram sobre gastronomia

Entro na sala de conferências da Unesco, em Paris, e me acomodo na primeira fila (neste caso, não quer dizer que eu seja importante, porque isso não é desfile de moda). Olho para a mesa onde estão os palestrantes, e logo reconheço um sujeito admirável. Era o chef Gastón Acurio. Chego perto para uma foto, e quem está a seu lado é outra pessoa que muito admiro, ainda que só de longe, já que nunca estive em seus restaurantes: era a chef Anne-Sophie Pic, possivelmente a cozinheira mais premiada da História. Como se não bastasse, leio ao lado deles a plaquinha com o nome de outro convidado para aquela mesa: simplesmente Michel Onfray, uma dessas pessoas que mudaram a minha visão de mundo através de um livro, no caso “A razão gulosa: filosofia do gosto” (leia, por favor).
Foi inesperado para mim. Estava ali para acompanhar parte do congresso da associação de hotéis Relais & Château, um encontro anual com esses hoteleiros. Havia dirigentes da entidade, e alguns políticos franceses, de alta patente. Salão lotado. E o que se falou foi sobre identidade, tradição, localismo, sustentabilidade. E esses conceitos passam, sobretudo, pela cozinha.
- Trabalhamos para uma cozinha melhor e mais humana, dando importância às tradições atemporais. Gastronomia e hospitalidada dizem respeito à arte de viver, sentir a forte emoção do sabor, da experiência. Precisamos confrontar as diferenças, observar as culturas alimentares, valorizar os artesãos -disse Olivier Roellinger, vice-presidente do Relais & Châteaux, em seu discurso de abertura.
Sobre artesãos ele se referia ao agricultor familiar, e também aos pequenos produtores de alimentos, classes massacradas pela indústria de alimentos, e pela pressa cotiana.
- Trabalhamos por uma cozinha melhor e mais humana, que dê a devida importância às tradições atemporais. Isso quer dizer priorizar os ingredientes sazonais, proteger de maneira unida o tempo de colheita, dividir a paixão, criar um mundo mais feliz e saudável. A cozinha pode servir de inspiração para um mundo melhor – disse Anne-Sophie, mostrando mesmo ser sábia, em seu primeiro aparte.
Logo em seguida, Michel Onfray se manifestou.
- Quando você cozinha para quem gosta, a comida fica melhor. Mas se faz para quem não gosta não tem como ficar bom. Esse é um dado curioso da gastronomia. Temos as mais profundas discussões à mesa, as mais profundas, sejam políticas ou filosóficas – comentou o escritor, para emendar em seguida – Por isso, temos que aprender novamente a sentir o gosto natural das coisas, o que se perdeu nas últimas décadas com a indústria alimentícia. Nosso corpo é muito importante, temos que combinar saúde e prazer.
Já ouvi coisas semelhantes de muita gente, mas isso vindo de um filósofo mostra que a comida vai se entranhando nas academias, como talvez nunca antes tenha ocorrido, nem na Antiguidade Clássica, nem na Idade Média ou em qualquer outro período da História da Humanidade. Parece bobagem, mas não é. Michel Onfray leva a gastronomia às mais profundas discussões científicas. Não se pode mais conviver com uma comida insípida e padronizada, como parece que se quis nos empurrar por goela abaixo no século passado. Chega de McNuggets, chega de presuntada, ou tomatões gigantes e sem sabor, todos trabalhados no agrotóxico. Chega de alimentos cruzando os oceanos, desperdiçando seu frescor e muita energia. Chega de crianças aprendendo a comer bobagem. As cidades não suportam mais o êxodo rural. O mundo precisa mudar. E a comida, necessidade mais básica do ser humano, tanto no sentido fisiológico quanto psicológico, é o principal vetor dessa mudança.
E então foi a vez do Gastón Acurio falar. Falou e disse.
- O Peru tem 7 mil anos de cultura. Não se pode viver com alimentos desenvolvidos por engenheiros, responsáveis pelos que se come mundo ag=fora. Milho, tomate, batata, feijão, pimenta… Tudo manipulado. Precisamos estar junto a Pachamama, ter conexão com a natureza. Precisamos dar valor ao agricultor, aos ingredientes, proteger a diversidade que ainda existe. Os pescadores locais que sofrem com a indústria pesqueira. Quando um chef faz um ceviche não pode se esquecer o pescador, que trabalha a noite inteira para nos fazer feliz. Os vendedores de rua, com as suas frutas. O mundo mudou, as identidades regionais estão mais fortes hoje. Não existe apenas uma gastronomia no mundo da cozinha.
Isso não é mais algo a se pensar. É para se colocar em prática. Já.


Vinho e arte em Pommard: Dalí, Picasso, Chagall e muito mais

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Pommard 1
A região da Borgonha tem nada menos que 5 mil produtores de vinho, a grande maioria pequenos, com vinhedos com tamanho médio de 7 hectares. Para o enófilo mais apaixonado as vinícolas familiares, de tamanho reduzido, são as mais atraentes, considerando que muitos não recebem turistas. Esse contato com o ambiente rural, as mãos do sujeito calejadas pelo trabalho no campo, a visão de mundo carregada de amor pela terra são o que de mais lindo o mundo do vinho nos apresenta.

Pommard 2

Para o turista comum, que cá entre nós, ao menos entre os brasileiros, pouco frequenta esta região, há vinícolas grandes, com estrutura de visita, além de lugares como o Imaginarium, onde um tour que poderia estar em um parque temático (assim como a sede de Georges Duboeuf, na área de Beaujolais, não muito longe daqui), passeando de maneira lúdica pela história da bebida, são capazes de agradar mesmo quem não liga para o assunto, e até crianças podem gostar.

Pommard 3

Mas há lugares que são indispensáveis pelo conjunto da obra, caso do Château de Pommard, nesta vila que é uma das denominações da Borgonha. Porque, além de produzir belos vinhos, a casa também tem uma notável estrutura turística, que inclui um belo acervo de ferramentas e materiais antigos para o cultivo da uva e a produção da bebida, além de ser uma bela propriedade. Porém, o que torna único o lugar é a coleção artística que encontramos ali. Para começar, a área externa é decorada com diversas peças originais de Salvador Dalí, incluindo um dos famosos relógios derretidos, além de várias esculturas do mestre do surrealismo. Como se fosse pouco esta coleção, no lugar funciona uma galeria de arte de alta classe, onde encontramos no momento, por exemplo, peças de nomes como Pablo Picasso, Marc Chagall e a estrela da casa, Salvador Dalí. E quem quiser, ainda pode comprar.

Mais informações no site.


A arte da toneleria: aprenda, na Borgonha, como se fazer uma barrica de vinho

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Existem incontáveis atividades para entreter os turistas que passeiam pelas regiões vinícolas ao redor do mundo. Entreter, e também ensinar a respeito da bebida. Na época da colheita, os visitantes podem cortar os cachos e fazer piquenique nos vinhedos, vivendo um dia de viticultor, por exemplo – um dos programas mais comuns. Em Portugal, onde a prática ainda sobrevive, a pisa da uva é uma das maiores diversões. É possível, ainda, viver a experiência de ser um enólogo, provando diferentes vinhos e determinando um corte à sua maneira, levando uma garrafa para casa, com o assemblage criado por você. Já vi museus dos mais diversos temas, com acervos relevantes, funcionando dentro de bodegas. Obras de arte, coleções de carros ou de peças pré-incaicas (ou pré-colombianas), acervos fotográficos históricos, e com memorabília relativa ao vinho, espetáculos de teatro e artes cênicas, parques temáticos… Existem infinitas possibilidades, incluindo aulas de cozinha, shows de música local, degustações de produtos típicos, projeções de filmes. Em mais de dez anos de estrada no mundo do vinho, já perdi as contas de quantos programas diferentes eu vivenciei. É sempre divertido viver essas experiências.

Art du Tonneu

Ontem, fiz algo que jamais tinha visto, e foi dos mais divertidos e originais: ajudei a produzir (parte) de uma barrica, e tive uma deliciosa demonstração de como se faz este importante elemento da produção vinícola, cuja origem foi com o propósito de ser algo que facilitava o transporte, e que com o tempo passou a ser objeto determinante no estilo de certos vinhos “com passagem em madeira”, multiplicando as possibilidades do enólogo.

Art du Tonneu 3
Para a brincadeira se tornar ainda mais rica, tudo isso aconteceu – nada mais, nada menos – em Mersault, uma das denominações com presença mais marcante da madeira. Achei não apenas divertidíssimo, algo capaz de agradar qualquer turista, mesmo quem não tem qualquer interesse particular no vinho, mas também altamente didático e esclarecedor (neste caso, especialmente para o enófilo amador ou para os profissionais da área).
Fomos ao Château de la Velle, em Mersault, mas Frédéric Gillet (frederic.gillet@art-du-tonneau.fr), da empresa Art du Tonneu, que organiza a atividade, pode ir fazer o mesmo em qualquer lugar, num hotel, ou numa vinícola, ou mesmo em uma casa particular. A atividade pode acontecer para grupos de tamanho e perfil o mais variado, de 2 a 200 pessoas.
Primeiro, ele traça um panorama histórico, lembrando os primórdios da utilização da barrica de madeira, invenção engenhosa dos celtas, que chegou para substituir as ânforas de barro, que muitas vezes se quebravam no transporte. Isso há 3 mil anos.
A família de Frédéric faz isso há gerações, e hoje eles produzem nada menos que 10 mil barricas por ano (um dados curioso: em Bordeaux a capacidade é de 225 litros, enquanto na Borgonha são 228).
Depois, ele vai explicando o processo de produção, em todas as suas etapas, mostrando as ferramentas antigas e falando ainda das técnicas modernas. O corte dos carvalhos, cuja idade ideal para isso são 200 anos; a secagem da madeira, exposta ao tempo; a precisão na hora de fazer as ripas, umas maiores, outras um pouco menores, para um encaixe perfeito.

Art du Tonneu 4
Até que ele mostra, com rara e natural destreza, como se monta uma barrica.

Art du Tonneu 5
Depois, o grupo foi dividido em duas equipes, para cada uma montar a sua barrica. E realmente é muito divertido fazer esta montagem, percebendo que não é algo fácil. Mas cumprimos a missão. (Olha eu aí, em ação, marretando a argola que dá estabilidade à barrica)
Depois, através de um vídeo, ele mostrou o processo de tosta, finalizando o programa apresentando como se colocam as duas tampas, vedando a barrica com uma mistura de água e farinha.
Taí um programa original, lúdico, diferente, divertido e muito esclarecedor.

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Olha aí o meu grupo: missão cumprida.
Mais informações no site da empresa, onde encontramos ainda bons vídeos sobre o assunto.


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